Um dos principais problemas do país é, sem dúvida, a emigração jovem qualificada. Estamos a formar jovens altamente qualificados, com o dinheiro dos Portugueses, para depois os exportar, e as consequências são dramáticas: 30% dos jovens nascidos em Portugal emigraram.
Num inquérito realizado aos estudantes do Porto, 50% consideram emigrar, e os números só não são piores devido às condições naturais portuguesas, que permitem um estilo de vida incomum na Europa. Veja-se que o problema não é a emigração pela emigração. É a emigração forçada por falta de condições materiais para que aqueles que queiram ficar o possam fazer, com qualidade e perspetivas de uma vida emancipada, justa e feliz.
O plano de emergência do novo Governo é de aplaudir. Mas, de facto, só resolveremos o problema estruturalmente com mais e melhores salários, isto é, com crescimento económico sustentável e duradouro. A diminuição dos impostos sobre os jovens, os apoios à compra de casa e o reforço do Porta 65 refletem uma preocupação política genuína com o futuro de Portugal e atenuam, em parte, a asfixia que nós, jovens, temos vivido.
Ainda assim, os jovens só deixarão de se ver forçados a emigrar quando a qualidade de vida em Portugal aumentar, isto é, quando recebermos melhores salários reais – desde 2011 perdemos 30% poder de compra – e quando a renda de uma casa não for 90% do nosso rendimento.
Portugal cresce de forma endémica há 20 anos. Em 2022, situava-se na 20ª posição em nível de vida entre os 27 Estados-membros da UE, sendo o 8º pior, com 78,8% da União Europeia no Produto Interno Bruto (PIB) per capita em paridade de poderes de compra. Mas porquê?
Desde logo, pela baixa produtividade, a 3ª pior da zona euro, que é agravada pelo perigoso círculo vicioso da emigração de jovens qualificados; pelo baixo investimento público – o mais baixo da Europa – e pelo investimento privado estrangeiro reduzido, causado pela excessiva burocracia e carga fiscal. O excessivo centralismo e um setor empresarial fragmentado, com empresas de pequena dimensão e pouco inovadoras, são ainda outros fatores relacionados.
Em 2022, o peso global dos impostos em relação ao PIB foi de 38% em Portugal, abaixo da média da UE, que se fixou em 41,2%. No entanto, uma economia pequena como a portuguesa tem de diminuir a carga fiscal para se tornar mais competitiva.
É, por isso, necessário reduzir os impostos sobre as famílias e as empresas – a redução do IRS vai no caminho certo, mas Portugal tem o segundo “IRC” mais elevado da OCDE. Só assim tornaremos o nosso país mais atrativo para o investimento, estrangeiro e nacional, o que irá alavancar a inovação, a produtividade e o emprego, com salários sustentadamente mais altos, num círculo virtuoso.
Seria ainda importante um pacto de regime entre os principais partidos que garantisse maior simplicidade e previsibilidade, elementos essenciais para as decisões dos agentes económicos. Nenhum grande investidor irá escolher Portugal se, de um dia para o outro, o quadro fiscal mudar completamente, fruto das alterações do partido no Governo. É certo que pode, e é saudável, haver diferenças e mudanças, mas em alguns temas essenciais seria importante haver diálogo, consenso e alguma continuidade.
O polémico IRS Jovem é um passo importante de fixação de talento em Portugal, pois aumenta o salário líquido dos jovens, mas tal não é suficiente. Portugal tem um dos salários médios mais baixos da Europa, 75% dos jovens ganham menos de 1000 euros, e o poder de compra de um jovem português é consideravelmente baixo. Enquanto isso não mudar, será impossível competirmos com o mercado de trabalho global e continuaremos a defraudar expectativas e a exportar talento de muita qualidade e de graça, numa perigosa espiral de subdesenvolvimento.