O clima económico está a mudar, com um arrefecimento global em perspetiva. Primeira consequência: a queda das bolsas a nível que não se via há anos. A situação geopolítica ajuda à festa, mas não é a dificuldade em fazer navios cruzar o Mar Vermelho nem as cadeias de fornecimentos que são a raiz do problema. Os dois polos da economia mundial, EUA e China, estão a perder dinamismo. Por razões diferentes: na China, a bolha do imobiliário; nos EUA, um mercado de trabalho a arrefecer depressa depois da inflação ter roído os rendimentos, mas que importa? As consequências são as mesmas.

Para a Europa, a situação nos EUA é mais relevante. Maior proximidade e ligações económicas mais profundas, além de Biden se ter esforçado por reparar os danos que Trump provocou no relacionamento atlântico, sem falar que o protecionismo (particularmente à la Trump) sempre se saldou em repartir perdas. E dos EUA vêm preocupações. O último relatório do mercado de trabalho mostra uma taxa de desemprego a subir para 4,3%, é verdade que com subida da taxa de participação, mas era 3,4% há um ano. A criação de emprego foi em julho apenas 114 mil postos, valor baixo pelos padrões recentes, a par de um abrandamento da subida dos salários.

Por outro lado, a taxa de inflação foi 3% em junho, uma descida dos 3,3% de maio. A taxa core, que exclui alimentação e energia; está ao nível mais baixo desde abril de 2021. Os 2% ainda estão longe, mas a batalha da inflação está a perder relevância face aos riscos de um hard landing, situação que não está fácil para a Reserva Federal. Depois da aposta falhada no aumento transitório da inflação, e depois do começo tardio a subir os juros, agora criou-se a dúvida se não vão outra vez reagir tarde, se não deviam já ter descido os juros na reunião do mês passado.

Powell deve estar a ouvir o “Desired Constellation” da Bjork, sobretudo o refrão: “how am I going to make it right?” Medo de falhar não é desculpa, é dar mais um argumento a Trump para o substituir. Mas mais grave, se a situação económica se deteriora, se o desemprego aumenta, é dar mais argumentos a Trump para usar contra Harris, a par da inflação e das taxas de juro altas que castigam os que foram na miragem das taxas nulas e andaram a comprar o que não necessitavam com dinheiro que não tinham. É desequilibrar os pratos da balança contra Harris. Se a História se repete, esperemos que com Trump seja a derrota face a Biden, não a vitória sobre Hillary Clinton.