Por entre o entorpecimento das férias, passou relativamente despercebida a estimativa rápida do INE que dava conta do desacelerar da economia portuguesa. No segundo trimestre de 2024, o PIB terá crescido apenas 0,1% face ao trimestre anterior, uma quebra atribuída ao comportamento das exportações.

O crescimento português, em termos homólogos, foi, no entanto, superior ao da média da União Europeia, informação que terá contribuído para a apatia e para afastar, por ora, os receios de um volte-face.

Mas a semana passada foi também animada pela divulgação dos resultados da banca portuguesa. Os cinco maiores bancos viram novamente os seus lucros aumentar, desta vez tendo registado um crescimento de 31,4% no primeiro semestre de 2024.

O atual cenário de taxas de juro elevadas, sobretudo por comparação com aquela que foi a prática anterior, não pode ser excluído como um provável e relevante detonador desta concertação de episódios.

A preferência dos bancos centrais pelo controlo da inflação resulta num custo coletivo, que começa hoje a ser sentido na forma de perda de dinamismo económico. Mas gera também um benefício, mais localizado e capitalizado pelo setor bancário cujo lucro aumenta com o aumento das margens de juro líquidas.

E quando a atenção nacional parecia novamente entorpecida, eis que é sacudida por um forte abanão – a subida da taxa de desemprego americana para 4,3%, máximos não registados desde 2021, fez temer a possibilidade de os EUA virem a entrar em recessão.

A reação das bolsas não se fez esperar e foi estrondosa, sobretudo pela queda vertiginosa do Nikkei japonês, a maior desde 1987. E o contágio foi imediato, estendendo-se primeiro a toda a Ásia, para se espalhar depois para a Europa e Estados Unidos, com uma cadência definida pela hora de abertura das bolsas.

Deu jeito invocar a eventualidade de uma recessão americana como responsável por este episódio. Mas não é possível omitir o impacto que a subida da taxa de juro de referência para 0,25% pelo Banco Central japonês, ou que as decisões da Reserva Federal americana e do BCE de adiar as descidas das suas taxas de juro terão tido neste arremedo de pânico.

Em 2008 podemos constatar a complexidade da economia global. Foi preciso experienciar os efeitos de uma crise financeira profunda e seus desenvolvimentos negativos para que os governadores dos bancos centrais reagissem. Mas fizeram-no. No que revelaram mestria e prudência.

A experiência parece ter sido rapidamente esquecida.

Nestes períodos conturbados que conjugam o receio de uma recessão, com guerras, insegurança energética e crise climática, será urgente repensar os instrumentos de política monetária. Só assim se salvarão a banca e a bolsa.