A economia portuguesa tem tido um crescimento modesto nas últimas décadas, cujo problema adicional é a sua falta de qualidade, demasiado baseado na quantidade (aumento do emprego) e com pouca melhoria da qualidade (subida da produtividade). O turismo será um dos principais responsáveis por este crescimento de fraca qualidade, quer pelo seu peso, quer pelas suas características, gerando empregos pouco produtivos. Dado o peso que já atingiu, superior ao de Espanha, parece razoável admitir que está a aproximar-se do seu limite de crescimento.
Nos três destinos principais, Lisboa, Porto e Algarve, parece que nos estamos a aproximar, se não estivermos já, do ponto de saturação. Podemos falar de dois tipos de saturação: física e política. Em termos físicos, temos a ocupação do território por hotéis e as zonas urbanas por turistas. Em termos políticos, há a considerar a pressão para aumentos de preços das habitações e de muitos serviços, sobretudo de restauração, que expulsam os residentes, para além da alteração da paisagem urbana pela substituição de comércio e serviços para os nacionais por lojas para turistas.
Esta pressão política está a começar a desencadear os primeiros protestos políticos, que deverão ser encarados como a ponta do icebergue. Para além disso, há também uma dificuldade crescente em encontrar mão-de-obra para o sector, que se está a traduzir no preenchimento de lugares por imigrantes, muitos dos quais nem sequer falam português.
Mas mais do que discutir quanto é que pode crescer mais, a questão é que não deve crescer mais, pelo menos na sua actual configuração. Há dois caminhos alternativos, que poderão ser cumulativos: diversificar os locais de destino e qualificar o turismo. A diversificação dos locais permitiria aliviar a pressão nos actuais destinos muito saturados.
A qualificação do turismo, sendo atraente em termos teóricos, está repleta de riscos práticos, requerendo uma gestão judiciosa. Uma das formas de qualificar é termos menos turistas de baixo rendimento e mais turistas de luxo, mas o problema é que, assim, teríamos exacerbados os efeitos já referidos de subida de preços do imobiliário e dos serviços, agravando a saturação política já referida. O turismo cultural poderá ser uma das respostas e outras terão que ser encontradas e trabalhadas.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.