Após a bolha imobiliária da década de 80, o Japão mergulhou numa profunda crise que dura até aos dias de hoje. O trauma da desvalorização dos ativos foi de tal ordem que os japoneses se habituaram a poupar e a não consumir. Mas onde aplicam as suas poupanças?
Na década de 90, o Banco do Japão, para tentar estimular a sua economia, decidiu reduzir os juros para próximo de zero. Uma inovação à época, que seria seguida, algumas décadas mais tarde, pelo Banco Central Europeu e pela Reserva Federal americana (Fed).
Ora, com juros zero, o aforrador japonês não recebia nada pelas suas poupanças em ienes japoneses depositadas nos bancos. Era impreterível aumentar as receitas para não delapidar as poupanças. Essa tarefa estava entregue às donas de casa japonesas, que com elevados níveis de educação financeira, estavam encarregues de gerir as finanças da família.
Rapidamente perceberam que, se vendessem os seus ienes, que nada rendiam, e comprassem dólares americanos, cuja taxa de juro era de 6%, conseguiam ter um rendimento extra e aumentar o património da família. De um momento para o outro, o rendimento anual subiu para 6% em dólares!
Conhecida por “carry-trade”, ou estratégia de diferencial de taxas de juro, ganhou fama em 1997 quando o “The Economist” publicou um artigo a chamar a atenção para a popularidade que tinha conquistado junto das donas de casa japonesas. Uma estratégia que apenas tem sucesso quando os diferenciais de taxas de juro são muito elevados.
A partir de 2022, com a subida expressiva das taxas de juro por parte da Fed, esta estratégia ganhou vida novamente. O iene desvalorizou 50% face ao dólar e os ativos em dólares valorizaram, numa festa para os investidores japoneses e os que seguiam esta estratégia.
Acontece que o Banco do Japão decidiu começar a subir ligeiramente os juros e os mais recentes dados da economia americana apontam para um forte abrandamento ou recessão, levando a crer que a Fed vai começar a reduzir os juros já em setembro.
A redução do diferencial de juros entre os dois países pode ditar o fim desta estratégia de investimento. A queda da bolsa de Tóquio em 13% e das bolsas europeias e americanas em quase 10% em poucos dias, e a forte valorização do iene, resultou do facto de muitos investidores quererem desfazer-se simultaneamente dos seus investimentos.
Acresce que muitos investidores, procurando ganhos adicionais a curto prazo, acabam por se envolver em estratégias de alavancagem, ou seja, por investirem mais do que o seu capital, com recurso a endividamento, o que origina quedas mais rápidas no mercado.
A verdade é que as donas de casa japonesas aprenderam a arte de investir, desempenhando um importante papel até aos dias de hoje!