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Excedente externo da economia portuguesa sobe para 4,1 mil milhões no primeiro semestre

Os dados do Banco de Portugal indicam que o saldo positivo da balança de pagamentos nacional foi quase o dobro do registado em igual período do ano passado. O banco central revela que a dívida externa líquida de Portugal reduziu-se de 53,8% do PIB no final de 2023, para 50,0% do PIB (136,9 mil milhões de euros), no primeiro semestre de 2024. Trata-se do rácio mais baixo desde o final de 2005.
20 Agosto 2024, 12h33

No primeiro semestre de 2024, a economia portuguesa apresentou um excedente externo de 4,1 mil milhões de euros, que compara com um excedente de 2,1 mil milhões de euros no período homólogo. Uma evolução que radica essencialmente na diminuição do défice da balança de bens e um aumento do excedente da balança de serviços, com destaque para as viagens e turismo.

Os dados são do Banco de Portugal que publica hoje as estatísticas da balança de pagamentos e da posição de investimento internacional atualizadas para junho de 2024. O excedente externo corresponde à diferença entre importações e exportações de bens e serviços.

“Até junho de 2024, o excedente das balanças corrente e de capital foi de 4.113 milhões de euros, o que compara com um excedente de 2.115 milhões de euros em igual período de 2023”, revela o BdP. O excedente das balanças corrente e de capital no primeiro semestre de 2024 representa 3,0% do PIB.

Segundo os dados do banco central esta evolução “reflete a diminuição do défice da balança de bens, de 800 milhões de euros, com as importações a diminuírem mais do que as exportações (-997 milhões de euros e -197 milhões de euros, ou -2,0% e -0,5%, respetivamente); o aumento do excedente da balança de serviços, de 1.191 milhões de euros, tendo a evolução do saldo de viagens e turismo (+1.024 milhões de euros) justificado grande parte desta variação; o aumento do excedente da balança de rendimento secundário, de 213 milhões de euros, fruto, em grande medida, do prémio de Euromilhões; a diminuição do excedente da balança de capital, de 191 milhões de euros, explicado, sobretudo, pela evolução das operações de compra e venda de ativos intangíveis com o exterior” lê-se no relatório do Banco de Portugal.

Isto é, o recebimento do maior prémio de sempre do Euromilhões no país justificou que o saldo da balança de rendimento secundário, que regista as transferências correntes entre residentes e não residentes aumentasse 213 milhões de euros nos primeiros seis meses do ano. O prémio é registado no mês de junho.

No acumulado dos primeiros seis meses do ano a capacidade de financiamento da economia portuguesa no primeiro semestre de 2024 traduziu-se num saldo da balança financeira de 4.110 milhões de euros, refletindo vários indicadores. Nomeadamente o aumento dos ativos sobre o exterior, de 20.438 milhões de euros, resultante maioritariamente do investimento de bancos e das administrações públicas em títulos de dívida emitidos por não residentes (8.020 e 3.177 milhões de euros, respetivamente).

Mas também o acréscimo dos empréstimos concedidos por sociedades não financeiras a entidades intragrupo não residentes (2.509 milhões de euros); o aumento dos passivos, de 16.328 milhões de euros, devido, sobretudo, ao aumento de títulos de dívida detidos por não residentes, emitidos pelas administrações públicas e bancos (13.048 e 3.606 milhões de euros, respetivamente) e aos aumentos de capital nas sociedades não financeiras por parte de entidades não residentes do mesmo grupo económico (3.952 milhões), detalha o Banco de Portugal.

Estes aumentos foram parcialmente compensados pela redução dos passivos em depósitos do banco central (5.473 milhões de euros).

“Todos os setores exceto as administrações públicas contribuíram para a variação positiva dos ativos líquidos de Portugal perante o resto do mundo”, revela o BdP.

O banco central (6.121 milhões de euros) foi o que apresentou o maior valor, seguido das outras instituições financeiras monetárias (1.943 milhões de euros), das sociedades de seguros e fundos de pensões (729 milhões de euros), dos particulares (643 milhões de euros), das sociedades não financeiras (601 milhões de euros) e das instituições financeiras não monetárias exceto sociedades de seguros e fundos de pensões (406 milhões de euros).

Em sentido contrário, as administrações públicas apresentaram variações negativas dos seus ativos líquidos, de 6.334 milhões de euros.

O Banco de Portugal refere ainda que a posição de investimento internacional (PII) de Portugal passou de -72,5% do PIB (-192,5 mil milhões de euros), no final de 2023, para -66,0% do PIB (-180,9 mil milhões), no final de junho de 2024. “Este é o rácio menos negativo desde o final do primeiro semestre de 2005”, sublinha o banco central.

Para esta variação da posição de investimento internacional de Portugal contribuíram, principalmente a variação positiva dos ativos líquidos sobre o exterior, de 4,1 mil milhões de euros, refletida no saldo da balança financeira do primeiro semestre de 2024; as variações de preço positivas, de 7,5 mil milhões de euros, que refletem a valorização dos ativos financeiros (4,7 mil milhões), nomeadamente do ouro monetário (3,8 mil milhões de euros), e a desvalorização dos passivos (2,8 mil milhões), maioritariamente em instrumentos de capital (1,7 mil milhões);
as variações cambiais positivas, de 800 milhões de euros, que resultam, essencialmente, da apreciação dos ativos líquidos externos denominados em dólares americanos (900 milhões de euros).

“Da redução de 6,5 pontos percentuais (pp) no rácio negativo da PII no PIB, 4,3 pp resultaram da variação nominal da PII, e 2,2 pp do crescimento do PIB”, revela o BdP.

O banco central revela que a dívida externa líquida de Portugal reduziu-se de 53,8% do PIB (142,7 mil milhões), no final de 2023, para 50,0% do PIB (136,9 mil milhões de euros), no primeiro semestre de 2024. Trata-se do rácio mais baixo desde o final de 2005.

Análise ao mês de junho

Nos dados relativos apenas ao mês de junho, verifica-se que a capacidade de financiamento da economia portuguesa traduziu-se num saldo da balança financeira de 910 milhões de euros.

No mesmo mês o saldo das balanças corrente e de capital foi de 1.391 milhões de euros, o que corresponde a uma diminuição de 248 milhões de euros relativamente ao mesmo mês de 2023.

A balança de bens e serviços apresentou um saldo de 909 milhões de euros. Este valor traduz um aumento de 246 milhões de euros em relação ao mês homólogo, em resultado da redução, de 140 milhões de euros, do défice da balança de bens, para 1.772 milhões. Esta evolução deveu-se a um decréscimo mais expressivo das importações de bens, de 452 milhões de euros (-5,3%), do que das exportações de bens, de 311 milhões de euros (-4,7%); do aumento do excedente da balança de serviços em 106 milhões de euros, para 2.681 milhões.

As exportações e importações de serviços aumentaram, respetivamente, 2,7% e 0,9% em relação a junho de 2023. O aumento das exportações reflete, sobretudo, o contributo das viagens e turismo (+211 milhões de euros).

Nesse mês o saldo da balança de rendimento primário foi deficitário em 316 milhões de euros, agravando 368 milhões relativamente a junho de 2023.

Em junho o saldo da balança de rendimento secundário apresentou um excedente de 670 milhões de euros, que compara com um excedente de 384 milhões de euros no mês homólogo. A variação de 286 milhões de euros “é em grande parte explicada pelo recebimento do maior prémio de sempre do Euromilhões em Portugal, na ordem dos 200 milhões de euros”, refere o banco central.

No mês de junho a balança de capital apresentou um excedente de 128 milhões, o que traduz uma diminuição de 413 milhões de euros relativamente ao período homólogo. “Esta redução é justificada tanto por uma menor atribuição aos beneficiários finais de fundos comunitários com vista ao investimento como pela redução de operações de venda de licenças de CO2”, explica o BdP.

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