Este segundo semestre de 2024 está a mostrar que a curto prazo é a Política que vai marcar a evolução das economias, não a Ciência Económica. O último sinal foi o programa económico de Kamala Harris, que tem mais de político que de económico. Por exemplo, controlo de preços, a medida para combater a inflação, sabe-se pelo menos desde Ludwig Erhard que não funciona, e um subsídio de 25 mil dólares para compra de nova habitação corre o risco de se traduzir em aumento dos preços, sem que sejam claros os resultados a esperar nem como vai ser financiado.
O Committee for a Responsible Federal Budget, uma organização apartidária, estima que o programa anunciado custe 1,7 milhões de milhões de dólares nos próximos dez anos, que irão somar a um já insustentável défice orçamental.
Também a Reserva Federal norte-americana (Fed) está debaixo de pressão para descer a taxa de juro, coisa a que Powell sempre resistiu, mas a que agora vai ter de ceder, mais que não seja por razões também políticas – não quererá ficar como culpado de ter deixado os EUA caírem em recessão por agir tarde de mais, a reedição da acusação de ter permitido a subida persistente da inflação ao tardar a tomar medidas por a considerar (erradamente) transitória. Vamos ver se afinal o raio cai duas vezes no mesmo sítio.
Para já, a FedWatch tool dá como provável uma descida de um quarto de ponto em setembro (73,5% de verosimilhança, contra 26,5% a meio ponto de descida). A taxa de desemprego ter aumentado para 4,3% ajuda, mas a taxa de participação também tem aumentado.
É o cenário de recessão nos EUA provável? A Goldman Sachs dá-lhe 41% de probabilidade, a Morgan Stanley 31% e a pool de economistas consultada pela Bloomberg 30%, o que nos faz pensar que é um risco real; claro que tudo fica mais relativo quando pensamos que há um ano atrás a probabilidade atribuída era de 70% e vimos no que deu. Já Paul Samuelson escreveu na “Newsweek” em 1966 que “Wall Street indexes predicted nine out of the last five recessions”.
De qualquer forma, é quase certo que o grande acontecimento deste outono vai ser a primeira descida dos juros nos EUA em mais de quatro anos, o que será possivelmente um indicador avançado do que fará também o Banco Central Europeu. O primeiro sinal será já o oráculo de Jackson Hole, onde Powell dirá o eu pensa fazer um mês depois – se e quanto vai a Fed descer os juros em setembro. O inconveniente é que fará a sua intervenção em fedspeak, o moderno rongorongo, uma língua que infelizmente não é compreensível para os restantes mortais.