Julho terminou em glória, como têm sido gloriosos estes últimos meses de Carlos Moedas na Câmara de Lisboa. Não vou voltar ao lixo e à sujidade que impregnam as calçadas e nem sequer ao ar rançoso que se respira. Não quero pensar na vegetação selvagem que rodeia as árvores que, pelo aspeto desgrenhado, ameaçam tornar-se carnívoras a qualquer instante. Não quero também discutir a incapacidade total em começar – repito: começar – a gerir o excesso de turismo.
Voltemos então a julho. Nos últimos dias desse mês, Moedas tentou aprovar a realização de uma hasta pública para concessão do Centro de Ténis de Monsanto pelo valor base de licitação de cinco mil euros por mês, durante 30 anos. Estamos a falar de 12 campos de ténis instalados em 35 mil metros quadrados no pulmão da cidade. Obviamente, a oposição chumbou em peso esta intenção do executivo e o assunto ficou por ali – mas não pode ficar por ali.
Já fui várias vezes ao Centro de Monsanto, não tenho dúvida alguma que precisa de obras e de alguém que o trate com mais atenção e recursos. A Associação de Ténis de Lisboa, atual inquilino, esgotou a sua vez, estamos de acordo; mas converter aquela joia num clube privado não é o caminho. Dirá a CML: mas podia ser outra associação a ganhar a licitação. Digo: alguém acredita nisso? Para os que ainda não perceberam, Lisboa mudou radicalmente nos últimos anos.
A chegada de novos residentes com dinheiro criou novos mercados, ofereceu massa crítica a uma urbe até aí sem grande poder de aquisição; os investidores estão justamente a aproveitar a oportunidade. Basta ir ao Jamor para observar a quantidade de pessoas que aproveita aquela magnífica infraestrutura. Não falta procura. O aluguer de um campo de ténis durante uma hora custa sete euros, o preço adequado para um recinto desportivo público, e assim tem de continuar a ser.
Um espaço como o Jamor ou o clube de Monsanto seriam certamente privados nos EUA. Teriam vallet parking, restaurantes caríssimos e finíssimos e badaladíssimos, zonas privadas e todos os luxos e piroseiras que muita gente iria espreitar no TikTok de uma Kardashian qualquer. Seria exigido o pagamento de uma joia anual, além da generosa mensalidade. Querem saber? Sou contra. Quero uma cidade vibrante e com investidores, mas recuso os guetos, seja para ricos ou pobres. Construir em cima de património que é de todos, como o clube da Monsanto, é crime cultural.
Carlos Moedas não percebe a nossa cidade. Vive no mundo dos condomínios fechados – uma praga a proibir em Lisboa – e tenta disfarçar esse impulso mostrando-se grávido de compaixão. Caro autarca: isto não é esquerda contra direita ou público contra privado, é apenas a defesa de Lisboa.