Numa altura em que a retenção do nosso talento jovem tem merecido, finalmente, uma maior atenção por parte dos poderes públicos, neste pequeno artigo debruço-me sobre as dificuldades de inserção dos nossos jovens, mesmo os mais qualificados, no mercado de trabalho.

Segundo dados do Eurostat, a taxa de desemprego jovem (15-24 anos) de Portugal subiu para 20,3% em 2023 (19,1% em 2022), que traduz o 6º maior valor na União Europeia (UE), onde a média foi de 14,5%. Trata-se de um problema estrutural, pois temos sempre dos valores mais altos da UE.

É nos jovens com educação superior que o nosso posicionamento relativo é pior e de forma consistente, pois a taxa de desemprego de 19,4% em 2023 nesse segmento foi a 4ª maior da UE, após 16,7% em 2022 (4ª maior) e 24,1% em 2021 (3ª maior). Pior, o valor em 2023 superou mesmo o dos jovens com ensino secundário (17,9%, na 6ª posição na UE), ao contrário do que seria de esperar, mas ainda assim foi bastante inferior ao valor de 30,0% nos jovens menos qualificados (até ao ensino primário), embora neste caso a 10ª posição na UE seja bem menos gravosa em termos relativos.

Para baixarmos a elevada taxa de desemprego jovem, que favorece a emigração – com realce para a que incide nos jovens mais qualificados, em quem o país mais investiu –, há que adaptar melhor os currículos dos cursos às necessidades das organizações (nomeadamente nas ferramentas digitais, incluindo as de Inteligência Artificial), apoiar o emprego jovem qualificado (em particular nas empresas de menor dimensão, a maioria), mas sobretudo melhorar o perfil de especialização da economia para que haja mais empregos qualificados e bem pagos disponíveis, o que deverá surgir a par com um salto de produtividade por via de medidas para elevar a competitividade do país e atrair bom investimento nacional e estrangeiro.

Além de problemas para conseguir emprego, uma vez empregados, os jovens sentem-se discriminados, o que dificulta a retenção de talento. Segundo o inquérito conduzido no estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos “Compreender o Idadismo no Local de Trabalho”, 42,3% dos trabalhadores jovens reportou níveis moderados ou elevados de discriminação relacionada com a idade (face a 28,6% no caso dos trabalhadores de meia-idade e 25,6% nos de idade superior).

O estudo recomenda ações que fomentem o espírito de equipa intergeracional e, em geral, a valorização da diversidade (incluindo a etária) no local de trabalho, assim como políticas e leis que combatam os preconceitos do idadismo (quer o juvenismo quer o velhismo) e campanhas de sensibilização nos media.