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Energética norueguesa desiste do eólico offshore em Portugal

Equinor cita o aumento de custos na eólica offshore para desistir de participar no leilão previsto para Portugal, que tem a meta de instalar dois gigas até 2030.
29 Agosto 2024, 11h09

A energética norueguesa Equinor anunciou a sua desistência na energia eólica offshore em Portugal. A companhia era uma das 50 que tinha efetuado o registo de interesse no leilão eólico offshore do país.

“Temos vindo ativamente a procurar oportunidades em fase inicial numa série de mercados em todo o mundo, em geografias diferentes, e confirmamos que estamos a sair de Portugal, Espanha e Vietname”, disse à “Reuters” o responsável pelas energias renováveis da empresa, Paal Eitrheim.

A companhia controlada pelo Estado norueguês apontou o aumento dos custos no sector offshore, causados pela inflação, taxas de juro elevadas e atrasos na cadeia de abastecimento.

“Está a tornar-se mais e mais caro, e pensamos que as coisas vão demorar algum tempo em alguns mercados em todo o mundo”, afirmou, deixando em aberto a  possibilidade de sair de mais mercados.

O responsável apontou que os custos da eólica em terra e do solar fotovoltaico não estão a ser afetados da mesma forma que os custos do offshore.

A companhia espera atingir os 12 a 16 gigawatts de capacidade de energia renovável em 2030, um disparo face aos 900 MW que detinha em 2023.

“Não vamos construir 12 a 16 GW à custa da rentabilidade”, garantiu.

A companhia está a desenvolver várias centrais offshore: Dogger Bank no Reino Unido, enquanto que os projetos Empire Wind  em Nova Iorque, e duas centrais no mar Báltico na Polónia aguardam por decisões finais de investimento.

Em fevereiro deste ano, a companhia dinamarquesa Orsted anunciou também a sua desistência do offshore em Portugal, para se concentrar nos projetos nos EUA.

O Governo português tem a meta de construir dois gigawatts de energia eólica offshore até 2030, segundo a revisão do Plano Nacional de Energia e Clima 2030 (PNEC) que está em consulta pública até ao dia 5 de setembro. Depois, será remetido à Assembleia da República para ser discutido.

Empresas espanholas lideram lista de interessados no leilão de eólico ‘offshore’

A armada espanhola lidera no assalto ao mar português, sendo o país com mais demonstrações de interesse em participar no leilão eólico offshore, entre as empresas com origem em 17 nações.

Com 14 empresas interessadas, entre gigantes do sector energético e empresas desconhecidas, é de terras hispânicas que vêm o maior número de companhias. Segue-se Portugal, com 11 empresas interessadas, algumas relativamente desconhecidas, outras do sector da engenharia e da construção, e as energéticas Galp, EDP Renováveis ou Finerge.

Seguem-se as empresas francesas (7), Reino Unido (5), Alemanha (3), Austrália, Países Baixos, Noruega e Japão (cada uma com duas), e vários países com uma empresa cada (Dinamarca, Itália, Bélgica, EUA, Irlanda, Canadá, Suíça e China).

Empresas vão investir noutros países se houver recuo no offshore

A Equinor é uma verdadeira gigante dos mares. Começou pelo petróleo, depois o gás natural e agora a energia eólica offshore. O salto para as energias renováveis foi natural, afinal, já detinha bastante experiência em explorar plataformas em ambiente marítimo e por furar poços recorrendo a plataformas flutuantes.

A norueguesa Equinor acredita que o leilão só deverá ter lugar depois das eleições e defende que até lá o país deve acelerar processos. E avisa que as grandes empresas têm outros países onde investir o seu dinheiro se Portugal decidir recuar.

A Equinor é uma verdadeira gigante dos mares. Começou pelo petróleo, depois o gás natural e agora a energia eólica offshore. O salto para as energias renováveis foi natural, afinal, já detinha bastante experiência em explorar plataformas em ambiente marítimo e por furar poços recorrendo a plataformas flutuantes.

O seu objetivo passa agora pela aposta na energia eólica offshore flutuante e foi essa mensagem que trouxe a Portugal.

A empresa foi uma das 50 entidades que registou o seu interesse no leilão eólico offshore e espera agora pela fase de diálogo com o Governo que arranca em janeiro.

Questionada pelo JE se tem alguma mensagem a transmitir ao poder político, Anne Marit Hansen defendeu a manutenção da aposta nas eólicas offshore.

“Tirem vantagem de serem pioneiros e percebam que há um valor associado. Portugal não estava na nossa agenda até ao início do outono, mas viemos porque a ambição política era muito clara, estável, consistente”.

“Se essa mensagem mudar, pode ser difícil, especialmente para as grandes empresas, que têm um grande portefólio que podem escolher. Passam de dizer ‘Portugal é muito interessante’ para ‘já não é muito interessante’ e depois dão prioridade a outros países”, alertou.

Sobre a realização de eleições antecipadas, está convicta que um leilão só vai ter lugar depois. “Pensamos que pouco vai acontecer antes das eleições, mas há muito que se pode fazer até lá, porque se não houver uma administração que possa tomar decisões com base legal é preciso esperar até depois das eleições. Há muito trabalho de casa por fazer antes de haver um leilão. Gostaríamos de clareza o mais depressa possível, afirmou, admitindo estar um “pouco preocupada” com o impacto da crise política na ambição offshore.

Questionada sobre se prefere que o leilão seja realizado em uma ou duas fases, disse que a empresa “vai avaliar as regras”, conforme o que for decidido: “depois” virá a “decisão”.

“Pensamos que é importante que Portugal tire vantagens das oportunidades que surjam por ser um pioneiro e isso significa que o país não pode atrasar-se muito”, afirmou ao JE em declarações à margem da conferência das Associação Portuguesa das Energias Renováveis (APREN) que decorreu na semana passada em Lisboa.

Sobre o processo de diálogo que abre em janeiro, disse ter “boas expectativas”.

Na conversa com o JE frisou a necessidade de as empresas vencedoras do leilão terem um consórcio robusto. “Estamos interessados em falar com todas as empresas que possam acrescentar valor ao nosso projeto. Para construir estas infraestruturas complexas é preciso ter um consórcio que tenha muita experiência, capacidade técnica, muita tecnologia e que também tenha dinheiro, porque isto custa muito dinheiro, é preciso ter um modelo de financiamento que seja robusto para que não falte dinheiro e para que o projeto não fique depois pendurado. Com os custos a subirem, isto pode ser um problema, é preciso ter um sistema para gerir o risco técnico e financeiro. Isso é muito importante”.

E sublinhou também a necessidade de ter parceiros locais para a empreitada offshore. “Não se pode entrar num país para fazer negócio sem trabalhar com empresas locais”.

Em relação a problemas na cadeia de abastecimento, disse que “em todos os países é complicado, há muitas incertezas, mas isso é algo a que estamos habituados”. Sobre parcerias, disse que ainda é cedo e que primeiro vai “ver o que as autoridades decidem para depois avaliar com base nos prazos e na estrutura do leilão”.

A petrolífera estatal norueguesa tornou-se mais conhecida nos últimos anos por ter sido uma das boias de salvação da União Europeia quando a Rússia fechou a torneira do gás natural. Foi então que a Equinor acelerou a produção e contribuiu para que os lares europeus e indústria continuassem a receber gás.

Com este impulso, os seus lucros dispararam em 2022 para um nível recorde: 29 mil milhões de dólares face aos 8,6 mil milhões de 2021. Só o seu cash flow vai atingir 20 mil milhões de dólares por ano para o resto da década: uma pipa de massa. Uma parte deste dinheiro virá para as eólicas offshore em Portugal? Só o futuro o dirá.

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