Comecemos pelo lado positivo, de que é exemplo a diminuição das listas de espera do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para cirurgias oncológicas, as quais este ano diminuíram cerca de quinze pontos percentuais comparativamente o período homólogo.

Positivo, também, saber que se espera que até meados de outubro não haja ninguém, a nível nacional, que queira ser operado e que esteja a ultrapassar os tempos máximos para este tipo de cirurgias. São boas notícias para os doentes e para as suas famílias, mas também para os subsistemas de saúde, amiúde chamados a suprir este tipo de risco assimétrico sem o financiamento que lhe dê suporte.

Pessoalmente tive também uma boa experiência, neste verão, com os magníficos serviços de urgência pediátrica nos hospitais de Torres Vedras e das Caldas da Rainha. Uma surpresa pelo profissionalismo, humanismo, qualidade de atendimento e atenção ao detalhe de médicos, enfermeiros, auxiliares e administrativos.

Existem, portanto, boas notícias no SNS, bons indicadores, e importa também dar nota disso mesmo.

As boas notícias, contudo, não são gerais. Tantas vezes nas notícias, o SNS no Oeste, numa região de mais de 400 mil habitantes, sofre de todos os problemas conhecidos de falta de profissionais. Falha que o Ministério da Saúde não tem conseguido colmatar aqui e noutros locais.

Não obstante a intervenção de sucessivos governos, temos sinais aparentes de um sistema de tipo soviético que em todo o lado produz o mesmo tipo de resultados: poucos e medíocres.

O acréscimo de quase mais um milhão de novos habitantes em Portugal, nos últimos seis anos; a redução para 35 horas semanais de trabalho (um disparate que António Costa provocou); a emigração dos médicos e a sua saída para os privados; tudo fatores que agravaram um sistema soviético que ao coartar a liberdade de gestão, os mecanismos de recompensa e de premiação do esforço e do mérito, vem concretizar a profecia: cada vez mais dinheiro dos contribuintes para resultados que, com muitas e honrosas exceções (oncologia, urgência pediátrica, vacinação, acompanhamento da infância, etc.), são sofríveis e em declínio face aos nossos pares europeus.

Com o final da Guerra Fria, outros países libertaram-se do jugo soviético e da anulação do esforço e da iniciativa individual, introduzindo mecanismos de diferenciação e de premiação. Tornaram-se sociedades diferentes e mais pujantes. Portugal, porém, não conseguiu ainda libertar-se do seu passado. É certo que criou um serviço universal de prestação de cuidados de saúde para os seus cidadãos. Permanece, no entanto, uma grande incógnita.

O que nos levou a adotar e a manter a centralização e instrumentos de gestão soviéticos? Nada disto era inevitável.