Os principais bancos portugueses (BCP, CGD, BPI, Novobanco, Santander, Crédito Agrícola e Montepio) obtiveram, em 2023, lucros expressivos, 68% superiores aos de 2022, graças às elevadas margens financeiras (juros dos empréstimos/juros dos depósitos) proporcionadas pelas subidas das taxas de juro.
Esses lucros levaram alguns a classificá-los como lucros excessivos, pedindo-se apressadamente a criação de um imposto extraordinário sobre esses lucros excessivos. Mais um imposto numa pobre economia asfixiada por impostos!
E como o IRC pago pelas empresas e bancos é proporcional aos lucros obtidos, se houve lucros muito elevados, também o IRC que vai ser pago pelos bancos vai ser muito elevado, logo, não será preciso taxá-los ainda mais!
Mas há um rácio na banca europeia que não tem sido referido, o chamado PBV. Vou dar um exemplo simples para os nossos leitores compreenderem.
Suponham que investem na construção de um imóvel que vos custou 100 mil euros. Chamemos então a esse valor do investimento o valor contabilístico (em inglês o Book Value-BV) pelo qual ficou registado o vosso investimento. E suponham agora que esse imóvel está a valer no mercado 150 mil euros (Market Value-MV). O mercado está a dar-vos uma mais-valia, chamada em inglês de Goodwill (GW) de 50 mil euros.
Em vez de vermos essa mais-valia pela diferença entre MV e BV, podemos vê-la pelo quociente entre MV e BV, chamando-se então a esse quociente o PBV, que é no fundo o quociente entre o preço de mercado P e o Valor Contabilístico BV. No nosso exemplo, virá então PBV=€150 mil/€100 mil=1,5.
Ou seja, sempre que o GW seja positivo, ou o PBV superior à unidade, o mercado está a dar-nos pelo ativo um valor superior ao valor investido, havendo criação de valor para o investidor.
Nas empresas e bancos, o valor investido pelos acionistas na compra de ações, situação líquida, é o BV e o valor que o mercado dará à situação líquida será o MV, o que numa empresa ou banco cotado em bolsa será a capitalização bolsista (market cap).
Na generalidade da banca europeia e no BCP, único banco português cotado em bolsa, o PBV ainda é inferior à unidade, o que significa que, apesar dos fabulosos lucros obtidos, o mercado ainda não está a dar pelo preço das ações aquilo que os acionistas lá investiram, ou seja, ainda há destruição de valor para o acionista. Isto relativiza tais lucros e não percebo porque é que os nossos mui ilustres banqueiros não explicam isto…