A direita liberal (ou que assim se julga) lembra o argumento daqueles filmes de terror em que, de repente, a passarada morta começa subitamente a cair em cima de um dos personagens. A comparação pode não ser muito tranquilizante, mas faz sentido.
De um dia para o outro – ou fui eu que estive distraído – surgiram várias associações políticas (com intenções a serem partidos) que se reclamam do liberalismo. Assim de memória é a Aliança, a Iniciativa Liberal, o Movimento Europa e Liberdade, a Democracia21 e mais não sei quantas. Algumas delas registam o apoio de personalidades política e intelectualmente respeitáveis, como Pedro Santana Lopes ou Joaquim Aguiar.
E logo houve quem começasse a falar de uma espécie de geringonça à direita com possibilidades de funcionar a partir de Outubro de 2019. Os fracos resultados do PSD (a avaliar pela hecatombe esperada com Rio ou sem Rio) seriam compensados pelo somatório dos deputados eleitos pelo CDS e por essas novidades liberais.
Acontece que é uma ilusão acreditar que essas associações e clubes possam suscitar um mínimo de entusiasmo nos portugueses. O liberalismo de que se reclamam nunca teve qualquer expressão entre nós. Mesmo os ditos liberais do séc. XIX apenas o eram por importação de modas francesas (também elas falsamente liberais) mas sempre desconfiando da iniciativa dos cidadãos.
Desde 1910 que ninguém em Portugal se reclama liberal (embora tenham aparecido partidos com essa designação). Os portugueses sempre acreditaram no Estado e temos que reconhecer que o Estado quase sempre se portou melhor do que muitos pensaram (e ainda pensam). E se se puder conciliar o Estado com a Democracia melhor.
Lamento, mas não há ideia liberal que resista cinco minutos entre nós. O único desses partidos novos que tem hipóteses de singrar é a Aliança. Não por ser liberal mas por ser o partido de Santana Lopes (que não é, que se saiba um liberal).
Todos esses partidos ameaçam cair em cima do PSD. Cairão mortos, estou em crer. O personagem principal, seja Rui Rio ou outro qualquer, limpará as penas e, ligeiro, reivindicará o que os portugueses sempre gostaram de ouvir: Estado, mais Estado, muito Estado. Ou, por outras palavras, e como Sá Carneiro dizia: social-democracia hoje e sempre!
Talvez haja uma surpresa em Outubro.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.