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Estarão as tendências no mercado de trabalho a mudar?

Assistimos, praticamente há duas décadas, a um fenómeno interessante no emprego. Apesar dos momentos de crise e incerteza, as tendências no mercado de trabalho global têm sido marcadas pela robustez, com uma enorme procura por mão-de-obra.
Rui Rocheta – Chief Regional Officer Southwestern Europe & Latam da Gi Group Holding
18 Setembro 2024, 07h55

A sustentada trajetória de regeneração económica, após a crise financeira de 2008, prolongou-se durante a recuperação da crise pandémica de COVID-19. Isto impulsionou, sem dúvida, a criação de emprego. Aliás, grupos mais desfavorecidos de trabalhadores saíram valorizados devido à intensa procura, exigindo melhores condições de trabalho.

Contudo, dados recentes mostram que podemos estar a aproximar-nos de um momento de viragem. Embora este cenário fosse expectável, chegámos a um ponto de quase excesso, sendo que corremos o risco de perder o que ganhámos nos últimos anos.

Um estudo recente da McKinsey, por exemplo, revela que, entre 2010 e 2023, o número de ofertas de emprego por cada pessoa desempregada aumentou quatro vezes. Este é um valor médio das 30 economias avançadas analisadas neste documento, sendo que, nos EUA, esse número aumentou sete vezes.

O que contribui para estas tendências no mercado de trabalho?

Desde logo, identificamos que o primeiro fator que tem contribuído para as atuais tendências no mercado de trabalho é o crescimento desproporcional da procura por mão-de-obra, em comparação com o crescimento da oferta.

Esta procura tem sido particularmente significativa em setores com menores taxas de produtividade, como a saúde, a hotelaria e a construção, de acordo com a McKinsey. A consultora argumenta que essa baixa produtividade está relacionada com a dificuldade em automatizar os processos, sendo que o trabalho manual ainda é predominante. Além disso, são bastante exigentes — física e mentalmente — para os trabalhadores, o que apresenta um impacto significativo nas taxas de retenção de talentos.

Ora, esta procura por trabalhadores, ainda que positiva, choca frequentemente com duas das grandes problemáticas que assolam as economias mais avançadas: o envelhecimento da população e a diminuição do crescimento demográfico. Estes dois fatores ajudam a exacerbar a escassez de mão-de-obra num mercado já com pouca folga.

O contributo da imigração para as tendências no mercado de trabalho

Aqui, o impacto da imigração é, decerto, crucial. Em países envelhecidos, a renovação demográfica “natural” pode demorar décadas a impactar o mercado laboral. A maioria da população imigrante, por sua vez, encontra-se em vida ativa, podendo entrar de imediato na economia.

Assim, permite mitigar a escassez de mão-de-obra no curto prazo, mas também o declínio da taxa de crescimento populacional.

Esta constatação indica uma das principais tendências no mercado de trabalho: a forte dependência relativamente à imigração. Não obstante, ainda que o seu contributo seja essencial, a força laboral imigrante apenas está a dissimular alguns problemas mais profundos, que podemos estar prestes a desvendar.

Chegámos ao ponto de viragem?

Os dados do emprego dos EUA tecem uma narrativa interessante, que merece toda a atenção, atendendo às repercussões que pode ter no resto do mundo. Um artigo recente do The Wall Street Journal refere que a economia de “alta pressão” norte-americana, um termo cunhado na década de 70 pelo economista Arthur Okun, pode estar a revelar a sua faceta menos positiva.

Teoricamente, uma economia de “alta pressão” traz mais pessoas para o mercado laboral, encoraja o investimento e atrai os trabalhadores para empregos mais produtivos. Todavia, se prolongada, acarreta o risco de criar uma recessão.

Ainda que pareça prematuro pensar nisso, os dados económicos dão sinais de que as mais recentes tendências no mercado de trabalho podem revelar-se pouco animadoras. Em julho deste ano, nos EUA, a taxa de desemprego aumentou e a criação de emprego foi a mais baixa desde 2020.

Na Zona Euro, também já vemos sinais destas tendências no mercado de trabalho. Ángel Talavera, economista da Oxford Economics, diz que “ainda que a taxa de desemprego continue perto de mínimos históricos, esta é a primeira subida que vemos desde 2023, e apenas a segunda [subida] desde o início da pandemia da COVID”. Isto demonstra, de acordo com o especialista, que “o mercado laboral está a começar a arrefecer após um longo período de forte crescimento”.

Por conseguinte, para se fazer frente aos desafios que se avizinham, é importante adotar estratégias que permitam resolver os problemas demográficos, mas também os de cariz laboral. O incremento da produtividade e a promoção da mobilidade da força de trabalho, por exemplo, são algumas das metas que empresas e governos devem almejar.

 

 

Este artigo é da autoria da Gi Group Holding.

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