Um orçamento aprovado é como o código postal, ou seja, meio caminho andado para a estabilidade económica e política de que o mercado precisa. De momento, o país vive uma forte guerra ideológica, entre esquerda e direita, com argumentos extremados que em nada vão contribuir para o desenvolvimento. O exemplo mais claro dessa luta é o IRC. A direita argumenta com a criação de condições de mercado para a competitividade; a esquerda atira que a direita quer privilegiar os ricos. No meio de tudo isto, faz falta a ideologia do bom senso.

A competitividade da economia nacional não é de esquerda nem de direita; são números e factores de crescimento. A atracção de investimento directo estrangeiro – ranking no qual Portugal tem pontuado no top 10 europeu – não é de esquerda nem de direita; são factores de atracção e custos de contexto que pesam na equação do crescimento. No quadro macro- -económico, que acompanhará a proposta do OE para 2025, o crescimento nacional já foi revisto de 2,2% para 2%. Para vários economistas continua a ser uma perspectiva optimista; para outros é suficientemente prudente para contemplar maiores agitações neste tabuleiro de xadrez. Outro grande desafio está do lado da receita e da despesa. A previsão do Executivo aponta para a despesa a crescer 8% em 2024 e 4,5% em 2025 e um encaixe fiscal a crescer entre 4% e 4,5%, no próximo ano.

O quadro macroeconómico não é um exercício gratuito de futurologia; tem de ser sempre ajustado à evolução de variáveis da economia mundial e só é válido se na sua base estiverem políticas públicas capazes de validar essas previsões. É por isso que recordo a frase “It’s the economy, stupid” proferida James Carville, em 1992, estratega e marketeer da campanha presidencial da campanha presidencial de Bill Clinton contra George H.W. Bush, presidente dos Estados Unidos à época. Estas palavras mantêm toda a atualidade em ante-véspera de novas eleições nos Estados Unidos, marcada para em Novembro, em que vamos assistir ao duelo Trump – Kamala. Em simultâneo, na Europa temos vindo a assistir ao desacelerar das principais economias e essa tendência tenderá a acentuar-se.

Portanto, o enquadramento global já é suficientemente difícil, ainda mais com duas guerras (na Europa e no Médio Oriente) sem sinal de dar tréguas. Por tudo isto, e com bom senso, o que Portugal precisa é de um entendimento entre os partidos em prol da aprovação do Orçamento do Estado para 2025 e de uma ideologia do bom senso que traga estabilidade ao tabuleiro de xadrez demasiado agitado para uma pequena economia aberta como a portuguesa.