Os líderes da oposição costumam ser criticados porque não aparecem o suficiente e não conseguem marcar a agenda: os tempos extraordinários que vivemos puseram tudo de pernas para o ar. Não só temos partidos da oposição a aprovar medidas do Governo ­– o fim das portagens na Scut e a aprovação de uma taxa reduzida do IVA na eletricidade –, como temos um primeiro-ministro que pouco aparece e que nada diz sobre o Orçamento do Estado, precisamente o contrário de Pedro Nuno Santos.

Talvez seja estilo ou até uma fina estratégia, mas o que sobra desta ubiquidade do secretário-geral do PS é o excesso de exposição reveladora de nervosismo e intranquilidade – ambas justificadas. Por um lado, o Governo despejou um balde de dinheiro para adoçar os eleitores, o que trará votos – não sabemos quantos e como isso nos sairá da pele. Por outro lado, oito anos de costismo demoram a ser esquecidos pelo eleitorado. Carregar estes dois pesos é muito difícil, exige tempo, e é precisamente isso que falta a qualquer líder da oposição, daí esta omnipresença de Pedro Nuno Santos. Se for para eleições a curto prazo, provavelmente perderá, mas também não pode apoiar o OE2025 de mão beijada. Resta-lhe este esbracejar constante que tem como contracena a frieza cínica e muda de Montenegro. É óbvio que o primeiro-ministro não quer governar em duodécimos e que está desde o dia zero em campanha eleitoral. Fará algumas cedências, ficaria mal na foto se não as fizesse, mas será o PS a ter de engolir o sapo – aprovar o OE2025 – ou jogar à roleta russa.

Enquanto a política partidária ocupa o papel que a Gabriela Cravo e Canela tinha noutros tempos, as reuniões da Concertação Social têm sido demasiado parecidas com as do anterior executivo. Discutir o salário mínimo é importante, mas e o resto? Como aceitar aumentos se não subir a produtividade? Virá de onde o dinheiro? Por que razão o 15ª mês chega cheio de letras miudinhas? Mudou tudo para que tudo fique quase na mesma? Desconfio que os empresários andam insatisfeitos.