Por estes dias, tudo ardeu no centro norte do nosso jardim à beira-mar plantado. Mas com altas temperaturas, vento e sete anos depois dos últimos grandes incêndios, nada de inesperado aconteceu, portanto.
Lamentavelmente, eu sou de uma geração que cresceu sabendo que os pinhais dos seus avós arderiam de tantos em tantos anos. E voltou a acontecer, porque colectivamente nada mudou, excepto o modo de vida das populações que já não vive da economia circular em torno da terra: desde a limpeza das matas à utilização dessa biomassa para fins agrícolas e pecuários e assim sucessivamente.
Nostalgia à parte e sem falsas demagogias – até porque todos temos opinião sobre o tema, mas ninguém tem verdadeiramente uma solução para o problema dos incêndios florestais em Portugal –, não estarão ainda suficientemente exploradas abordagens como, por exemplo, o papel dos fundos imobiliários e a sua faculdade de investimento em mancha florestal.
Os prédios rústicos são activos elegíveis para a composição da carteira de um fundo de investimento imobiliário e atendendo à importância social, económica e ambiental que a floresta desempenha, o nosso país poderá beneficiar, como um todo, chamando estes organismos de investimento colectivo para a mesa da ponderação de estratégias de médio e longo prazo.
Outrossim os proprietários de florestas poderão colher vantagens em entregar a gestão das matas a estas entidades, porque o seu objectivo é rentabilizar os activos nos quais investem e, nessa medida, os seus objectivos estarão alinhados com os dos proprietários e porque a gestão é feita por profissionais qualificados e especializados em que cada tipologia de activos que têm em carteira.
Embora haja mais fundos de investimento em prédios urbanos, por um lado, estes podem incluir no seu portefólio prédios rústicos e, por outro lado, existem já fundos florestais constituídos, isto é, fundos de investimento especificamente vocacionados para a gestão e rentabilização de prédios rústicos através de acordos celebrados com os proprietários, desde contratos de arrendamento, a contratos de cessão de exploração e outras figuras negociais.
Numa altura ainda de rescaldo dos incêndios e à pergunta sobre o que fazer quando o verde de Portugal continua a arder ciclicamente, cremos que a resposta não é mágica nem única, mas será seguramente de concertação de instrumentos de gestão territorial públicos e privados e com uma nota de que a nossas florestas são fonte de saúde e beleza e podem também ser fonte de rendimento.
Dizia Newton que só viu mais longe, porque olhou sobre os ombros de gigantes, pois também eu só consigo olhar para além do negro que consumiu (mais uma vez) as matas dos meus queridos avós, porque quero ser capaz de subir aos ombros de quem me deixou (a mim e aos meus irmãos) tão rica herança.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.