São notáveis os avanços em Saúde alcançados nos últimos anos, com os medicamentos a contribuir de forma decisiva para tais conquistas. Um estudo de 2018, elaborado para a APIFARMA com a colaboração da McKinsey, deixa claro que os medicamentos inovadores acrescentam valor significativo a Portugal e trazem benefícios tangíveis superiores à despesa.

O estudo, “O Impacto do Medicamento”, constitui um marco histórico na forma de debater a Saúde em Portugal. Pela primeira vez, foi demonstrado o impacto do medicamento com dados da realidade nacional, dos últimos 25 anos. Esta iniciativa permitiu passar de um paradigma centrado nos custos para um paradigma centrado no valor.

Assim, comprova-se que os medicamentos inovadores permitem mais anos de vida saudável para os portugueses, mais produtividade e mais rendimento para os doentes portugueses e para as suas famílias. Permitem ainda ganhos para o Estado e para o Sistema de Saúde, não só com a redução de hospitalizações e outros custos associados à gestão da doença, mas também através do impacto direto na Economia, contribuindo para a valorização do PIB português em 2,3%.

A importância dos medicamentos inovadores para as pessoas ficou evidenciada neste estudo pioneiro. Ganharam-se dois milhões de anos de vida saudável, evitaram-se mais de 100 mil mortes e acrescentaram-se dez anos de esperança média de vida, apenas no tratamento de oito doenças que atingem 20% dos portugueses e representam 15% da carga de doença em Portugal.

Estes medicamentos permitiram que as pessoas tratadas continuassem a ser produtivas, gerando cerca de 280 milhões de euros/ano de rendimento adicional para as famílias e reduzindo hospitalizações e outros custos diretos com saúde em cerca de 560 milhões de euros, todos os anos.

Estas conquistas demonstram os benefícios humanos e sociais dos medicamentos para o país. Neste sentido, devemos garantir o acesso dos doentes portugueses aos melhores tratamentos que a ciência permite.

À data do estudo, Portugal apresentava um dos piores níveis de acesso a medicamentos inovadores na União Europeia. Apesar dos esforços e competência das entidades responsáveis, a aprovação de reembolso para medicamentos inovadores em Portugal demora 21 meses, podendo chegar aos 38 meses para medicamentos hospitalares.

A morosidade dos processos de avaliação e negociações de preços, acontecem num contexto de política de suborçamentação da Saúde, e condiciona o acesso dos doentes às terapêuticas inovadoras.

Um acesso mais precoce, com tempos de aprovação do financiamento da inovação alinhados com as médias europeias, poderia ter reduzido a carga da doença em mais 9%, com ganhos de sete anos de vida saudável por ano e uma poupança de 210 a 280 milhões de euros, só no caso das oito doenças estudadas.

Hoje temos dados que permitem afirmar que a Saúde é um investimento nas pessoas, na sociedade e na economia. Os medicamentos têm valor para os doentes, para os portugueses e para o país.

Todos queremos melhores resultados para os doentes e sistemas de saúde mais sustentáveis. O país deve dar prioridade à saúde dos portugueses. Reconhecendo o valor aportado pelos medicamentos, chegou o momento de atrair investimento da indústria farmacêutica para Portugal e acelerar o acesso às melhores tecnologias de Saúde, incluindo os medicamentos inovadores.

O desafio consiste em passar de um paradigma centrado nos custos para um paradigma centrado no valor e na Pessoa. Devemos avançar para um modelo de financiamento baseado em orçamentos plurianuais, verdadeiramente centrado na Pessoa, nos ganhos em Saúde e problemas evitados, evoluindo o sistema de Saúde para entregar mais qualidade aos doentes e a toda a sociedade, abraçando mais a inovação e captando melhor o seu valor.

Acredito que uma efetiva cooperação – em torno de objetivos comuns centrados na saúde sustentável dos portugueses – entre todos os que trabalham no setor da saúde ou cujas decisões impliquem a Saúde dos portugueses irá trazer mais valor para as pessoas e para o país.