A actualidade política está a ser marcada pelas agendas dos senhores da guerra que colocaram em suspensão o papel da diplomacia política na resolução dos conflitos armados e decidiram, por sua vez, utilizar o instrumento da guerra para suplantar os desafios políticos actuais. Neste contexto, a geometria internacional deixou de ser previsível quanto ao desfecho dos conflitos armados, sobretudo, no Médio Oriente e na Europa. Assim, a possibilidade de paz não está no horizonte no curto prazo.
Os analistas e estudiosos sobre os conflitos armados fora da realidade africana não têm sido capazes de expandir ou alargar o conceito de senhores da guerra, ficando apenas associado às guerras em África. William Reno deixou de aplicar o conceito de “senhores da guerra” como uma figura singular (micro), passando a considerá-lo como um tipo de regime de natureza autoritária.
Para Reno, o surgimento desse novo tipo de regime de “senhores da guerra”, na década de 1990 e de 2000, contribuiu para o fomento das guerras civis africanas. Este conceito, densificado a partir da realidade africana, poderia servir, perfeitamente, para analisar a actual dinâmica internacional.
Neste momento, observa-se uma elevação dos interesses dos senhores da guerra, que acreditam que a violência consegue exercer um efeito de contenção e dissuasão dos seus adversários, realizando, através da violência, uma acção política. Este exercício político não tem em vista o cálculo de risco de erosão das estruturas dos Estados e, com efeito, o surgimento de novos movimentos armados ou grupos terroristas. A Somália e o Sudão, ainda hoje, sofrem os efeitos do regime do senhor da guerra.
Este regime é susceptível de gerar um mundo mais instável e imprevisível com o ressurgimento em força dos senhores da guerra num plano mais alargado e não apenas como líderes dos movimentos rebeldes ou armados. Englobando, presentemente, vários actores do Estado que fazem da guerra o instrumento mais importante das relações internacionais, com o desprezo pelo direito internacional e pela paz.
A ideia de paz nunca consta no léxico político de um senhor da guerra, porque o seu projecto político assenta sempre no terror que consegue causar nos seus adversários. Ou seja, realiza uma política através do paradigma de Carl Schmitt, segundo o qual o inimigo político deve ser sempre eliminado. Este paradigma inibe o alcance da paz, por agora, porque a paz é a tradução, na prática, pela empatia e pelo reconhecimento do sofrimento causado pela guerra.