Os pobres em Portugal estão mais pobres, o risco de pobreza aumentou e a desigualdade na distribuição de rendimentos agravou-se, tornando o país o quarto pior neste indicador na União Europeia. Mais grave ainda é que estar empregado continua a ser insuficiente para escapar à pobreza, porque um em cada dez trabalhadores vivem nesta situação.

A pobreza em Portugal é estrutural, passa de geração em geração, como uma herança, uma marca que se perpetua, e é difícil escapar-lhe. Sabemos que a incidência entre os desempregados é grande, porque o sistema social não compensa a falta de rendimentos, mas os dados têm mostrado, sistematicamente, que trabalhar não chega. Ou seja, termos uma baixa taxa de desemprego não conta a história toda, porque não reflete a qualidade do emprego que também vamos tendo.

Acresce nesta equação que o elevador social da educação também deixou de ser uma garantia – ainda que seja a melhor via de escapar à pobreza –, porque já temos registo de pobres com níveis mais elevados de escolaridade, incluindo licenciados.

Quando se noticia o aumento galopante dos custos com a habitação nas zonas urbanas ou a inflação nos bens alimentares ou nos combustíveis, é aqui que se sente primeiro e mais fortemente o impacto. E quando os serviços públicos se degradam e deixam de dar resposta às solicitações, também é aqui que mais se sente, porque não existe alternativa.

É preciso olhar para estas situações, além dos chavões. Estes são quem fica para trás, apesar de todo o esforço, e não podemos deixar que aconteça, porque é desumano, porque é custo para a sociedade e um desperdício de capacidade.