O país sempre gostou de bodes expiatórios. As famílias são iguais: convém que haja sempre um culpado. Na novela do Orçamento do Estado, a vítima está encontrada: a radical Alexandra Leitão, líder da bancada parlamentar socialista. Não há político, mesmo dentro do PS, especialmente dentro do PS, que não lhe atribua a responsabilidade de ter levado pela mão Pedro Nuno Santos para os corredores de um labirinto de espelhos e cadafalsos que, no limite, o pode levar à defenestração partidária – isto é, à necessidade de capitular perante a obrigação de deixar passar o OE2025 depois de ter atravessado o Verão inteiro e este início de Outono a dizer que provavelmente não o aprovaria.

Na verdade, Pedro Nuno Santos está entre a espada e a parede. Já perdeu há muito a guerra da percepção: poucos eleitores entenderão o voto contra dos socialistas – se ele realmente acontecer – depois das várias cedências de Luís Montenegro no IRC, no IRS Jovem, nas pensões, na habitação e etc. O primeiro-ministro pode achar que os auriculares dos repórteres televisivos recebem instruções directamente com origem numa alma penada que o detesta, mas esteve quase sempre um passo à frente neste OE2025. E isso ainda é mais flagrante porque, pela primeira vez em anos, o conteúdo deste orçamento, isto é, as medidas e acções que se propõe concretizar, não estão no centro da discussão pública, o que acaba sempre por desgastar qualquer governo. O que está no centro do debate é apenas o radicalismo de PNS e de Alexandra Leitão, que seria sempre uma possível líder a prazo dos socialistas. Seria? Já não será?