Estamos a duas semanas das eleições americanas e se alguém diz que sabe quem as vai ganhar é mentiroso. As probabilidades estão tão próximas que se entrou na chamada fase Oprah da campanha, o programa do ano em que se dão prémios a toda a audiência, e a agressividade está a subir quando discutir com Trump é, citando Cyrus Ching em 1948, como lutar com um porco: os dois ficam sujos, e o porco gosta.
As sondagens dão Kamala Harris como a mais votada, mas em 2016 Hilary Clinton perdeu com mais votos que Trump. Há um par de meses disse eu nesta coluna que acreditava mais nas apostas que em sondagens: quem aposta arrisca o seu dinheiro, enquanto numa sondagem podemos dizer tudo (quase, quase tudo).
A Betfair dava então uma vitória confortável a Harris, mas hoje a Polymarket dá 60% a Trump. Houve esta inversão recente porque Fredi9999, Theo4, PrincessCaro e Michie apostaram 30 milhões de dólares em Trump, todos nos mesmos momentos desde junho, o que faz pensar numa manipulação para criar uma dinâmica de vitória a favor de Trump (para os curiosos, a Betfair dá 58,1% a Trump, com a mesma vulnerabilidade). Isto a par do milhão de dólares de prémio que Musk dá diariamente a votantes que assinem uma petição com o fim aparente de galvanizar a candidatura republicana.
Quem quer que ganhe, os EUA vão ficar mais protecionistas: embora tarifas e subsídios só ponham todos pior, são como as sereias, hipnotizam. É também seguro que os problemas da economia americana (défice orçamental, défice comercial, dívida pública) não vão ser atacados (dê uma olhada aqui). Mas para terminar numa nota positiva, a taxa de juro vai continuar a descer.
Aliás, não deixa de ser curioso que ao mesmo tempo que se seca liquidez – uma medida restritiva – descem-se os juros, medida expansionista. É que estamos no unwind do QE: nas crises, de 2008 a 2022, a Reserva Federal dos EUA (Fed) aumentou o seu volume de ativos de menos de um milhão de milhões de dólares para nove milhões de milhões, injetando liquidez na economia para a dinamizar; agora, há que secá-la.
A Fed não está a renovar 60 mil milhões de dólares por mês de ativos que expiram (25 em títulos do Tesouro e 35 em mortgage-backed securities), um ajustamento gradual precisamente para que não perturbe o processo de normalização (descida) da taxa de juro. Isto é calibrado com a nova Reserve Demand Elasticity Tool, que avalia o impacto na fed funds rate das alterações nas reservas da Fed. O que a Fed não provou é que funciona com Trump.