O ouro tem registado máximos históricos nas últimas semanas e já subiu mais de 30% só este ano. No entanto, a tendência de alta já começou há muito tempo e nem estamos sequer perante a valorização relativa mais ampla deste ciclo. Na verdade, os atuais 32% são eclipsados se comparados com a valorização de quase 1000% desde março de 2001 – período em que o preço muito mais do que decuplicou – e foi de 2001 a 2011 que a cotação do ouro verdadeiramente disparou, subindo dos $254/onça para $1920, multiplicando-se quase por oito.

Segundo o World Gold Council, existem no planeta cerca de 272 mil toneladas de ouro. Dessa quantidade, 212,5 mil toneladas já foram mineradas e 59 mil estão ainda debaixo da terra. Todo o ouro à superfície permitiria formar um cubo com faces de apenas 22 metros.

Em termos de oferta, há a considerar a “produção”, que é relativamente estável e totaliza cerca de cinco mil toneladas por ano entre mineração e reciclagem e, por outro lado, todos os que estiverem dispostos a vender o ouro que têm. Do lado da procura, além de alguma utilização industrial, marginal, os principais “clientes” são os bancos centrais, o investimento (barras, ETF e outros) e a joalharia. Esta última é predominante, constituindo cerca de 50% da procura atual, mas também pode e deve ser vista como uma forma de investimento.

Os bancos centrais têm aumentado a procura por ouro, diversificando os seus ativos fora de títulos expressos em moeda fiduciária. Nos últimos meses, o investimento tem desempenhado um papel central na procura, o que pode ser explicado pelas guerras, eleições americanas, descidas de taxas de juro, recomendações de especialistas e, claro, a alta de preços que atrai interesse por si própria. Há cinco meses que os ETF em ouro não registam uma saída de ativos em termos líquidos. Devido ao atual otimismo do mercado, os vendedores não abundam e o preço sobe.

Os motivos que levam à detenção de ouro são tão antigos quanto os tempos. O ouro tem um registo impecável como reserva de valor. Ou seja, é um ativo que protege da inflação de longo prazo, das implosões monetárias e é um refúgio em tempos de maior incerteza. A durabilidade do ouro, a sua liquidez, transmissibilidade e aceitação tornam-no num ativo particularmente apetecível.

Estes argumentos, até pela sua subjetividade, podem justificar quase qualquer preço. Por isso, pode fazer sentido analisar o preço ajustado pela inflação, sendo certo que a metodologia do cálculo é alvo de discussão. Tendo em conta preços ajustados dos últimos 100 anos, que o ouro cota perto dos máximos históricos atingidos no final da década de 70. Isso não significa que a cotação não possa continuar a subir, mas apenas que o ouro não está barato em termos históricos.