O ecossistema português de empresas tecnológico-financeiras (fintechs) acumula um financiamento de 1,16 mil milhões de euros e mais de dois terços das rondas de investimento concluídas em 2024 contaram com investidores internacionais, em comparação com menos de metade no ano passado. As conclusões constam do relatório “Portugal Fintech Report 2024”, que será apresentado ao público esta quarta-feira.
A apoiar este impulso na captação de verbas e no crescimento estiveram essencialmente as associações ligadas a este mercado ou os investidores, ambos com mais de 30% das menções como “maior facilitador” (greatest enabler), quanto as maiores dificuldades (greatest hardship) são as métricas e o ciclo de vendas (49%) e o próprio acesso a capital (16%).
O mercado verificou ainda uma recuperação no “saldo natural” das fintechs, uma vez que foram criadas mais startups do que em 2023. O aumento homólogo foi mesmo a dois dígitos (+37%), segundo a oitava edição do “Portugal Fintech Report”, desenvolvido pela associação Portugal Fintech em parceria com a consultora KPMG, a sociedade de advogados Morais Leitão e a processadora de pagamentos Visa.
“Desde o nosso primeiro relatório em 2017, o cenário do setor fintech evoluiu significativamente, não só pela disrupção tecnológica como em adoção do mercado. No entanto, os desafios dos longos ciclos de vendas e de escalar internacionalmente continuam a necessitar de atenção”, alertou Mariana Gorjão Henriques, da direção da Portugal Fintech, reconhecendo que a incerteza geopolítica e as elevadas taxas de juro tornaram o ambiente das fintechs “desafiante”.
Porém, “a Inteligência Artificial [IA] continua a atrair investidores, sublinhando-se o facto de 71% dos fundadores indicarem o seu impacto positivo na eficiência e produtividade”, de acordo com a porta-voz da Portugal Fintech. É o caso das portuguesas Paynest e Rauva e das espanholas Veridas e Coinscrap, que está ligada à Fintech House, no Saldanha.
Atualmente, a maior parte das fintechs em Portugal operam nas categorias de seguros, também designadas insurtechs (20%), de empréstimos e créditos (19%) e de pagamentos e transferências monetárias (19%), sendo que mais de metade (63%) foram fundadas em 2020 ou antes. Quanto à sede, 84% têm-na em Portugal, sobretudo em Lisboa, e as restantes optaram por basear-se no Reino Unido (8%) e outros países europeus.
À semelhança do que acontece na generalidade do setor tecnológico, onde o paradigma do recrutamento se tem alterado em relação ao pós-pandemia, em 2024, a dificuldade em contratar talento na área tecnológica diminuiu consideravelmente (de 75% para 44%) nas fintechs, embora persistam percalços no recrutamento em marketing e vendas. Aliás, até aumentaram de 8% para 20% no período de um ano.
No que diz respeito à colaboração com incumbentes (empresas tradicionais do setor), menos de um terço (28%) das fintechs mencionou a disparidade cultural como obstáculo, mas 67% admitiram que as parcerias demoram mais de um ano a serem fechadas.
“Dado o pequeno mercado de Portugal, é fundamental fortalecer as estratégias de go-to-market internacionais, com suporte em diplomacia económica e na diáspora para superar os longos ciclos de vendas, sobretudo no setor bancário, onde os processos de procurement podem ser demorados”, sugere o documento.
O “Portugal Fintech Report 2024”, além de um diretório das empresas, faz ainda uma radiografia à indústria, mostrando que se continuou a desenvolver em 2024, como se demonstrou por: o lançamento do SPIN, que permite fazer transferências bancárias só com o número de telefone; a aprovação do primeiro fundo de investimento em criptomoedas, o 3CC Global Crypto Fund, gerido pela 3 Comma Capital; o facto de a Revolut se ter tornado na startup mais valiosa da Europa ou de o Parlamento Europeu ter adotado os primeiros textos que resultarão na diretiva PSD3 – Payment Services Directive 3.
Ecossistema fintech português já fez nove rondas de 65 milhões de euros este ano
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