Completam-se na noite de amanhã, sábado, 9 de novembro, 35 anos sobre a queda do Muro de Berlim, que dividia a cidade alemã em duas e funcionava como fronteira ideológica entre dois mundos que se opunham. Um ano depois da união de Berlim, assistimos à reunificação da Alemanha e, em dois anos, todos os regimes comunistas da Europa tinham sucumbido ao que parecia ser a vitória da democracia liberal e da economia de mercado.

Durante três décadas, o mundo viveu dos ganhos da paz generalizada e do reforço das trocas comercias motivadas pelo processo de globalização. Foram dividendos extraordinários.

Mesmo com os solavancos das crises, globais e regionais, económicas, financeiras e também políticas, aproveitámos estas condições, a nível mundial – mais de 1,1 mil milhões de pessoas foram resgatadas à pobreza extrema e o PIB mundial quadruplicou –, mesmo que muitos, especialmente nos países mais desenvolvidos, tenham sido penalizados pela globalização.

Esta época acabou. Uma pandemia, duas guerras de elevada intensidade – na Europa, com a invasão russa da Ucrânia, e no Médio Oriente, com a resposta israelita ao extremismo islâmico – seriam suficientes. Acresce o ressurgimento do protecionismo, mesmo antes da reação ao choque pandémico, que já vimos que vai reforçar-se a Europa e, garantidamente, nos Estados Unidos, com a edição 2.0 de Donald Trump na Casa Branca.

À época dos dividendos extraordinários está a seguir-se uma outra, de incerteza, de adaptação forçada a uma nova realidade, que para alguns constituirá uma oportunidade, mas para muitos outros vai significar crise. Preparemo-nos.