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Google: Decisão nos EUA pode gerar efeito de contágio e volatilidade acrescida no sector

Especialistas consultados pelo JE dizem que a incerteza gerada pela decisão do Departamento de Justiça que determinou que a Google deve desinvestir no browser Chrome, “pode continuar a pressionar negativamente” o desempenho das ações da Alphabet (proprietário da Google) no curto prazo. Mas os efeitos podem chegar às big tech.
Google
106.502.419 dólares (95.698.103,15 euros)
25 Novembro 2024, 15h33

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos da América determinou que o Google deve desinvestir no browser Chrome. Especialistas alertam que a incerteza gerada pela decisão podem “influenciar negativamente” as ações da Alphabet (proprietária da Google) no curto prazo e criar um efeito de contágio nas bigtech norte-americanas bem como trazer “volatilidade acrescida” ao sector.

O economista sénior do Banco Carregosa, Paulo Monteiro Rosa, diz ao Jornal Económico, que a decisão do Departamento de Justiça norte-americano já teve repercussões ao nível das ações da Alphabet. Iniciou-se com uma descida superior a 4%, na quinta-feira, a que se seguiu uma nova queda, desta vez mais branda, inferior a 1%, em pré-mercado na sexta-feira.

Esta segunda-feira a Alphabet está a negociar em alta com uma subida de 1,6%.

Para Paulo Monteiro Rosa a reação do mercado “está a refletir os receios” dos investidores em relação aos “potenciais impactos” de desinvestimentos e restrições, que “podem comprometer” a estrutura e a rentabilidade da empresa.

Contudo o economista do Banco Carregosa salienta que este processo legal, originado pelo Departamento de Justiça, “ainda está em andamento” com o Google a afirmar que vai recorrer dessa decisão das instâncias judiciais norte-americanos.

Mas Paulo Monteiro Rosa considera que a incerteza gerada “pode continuar a pressionar negativamente” o desempenho das ações da Alphabet no curto prazo.

“Além disso, há o risco de um efeito de contágio, que pode afetar outras big techs americanas, à medida que aumentam os receios sobre regulações ainda mais rígidas no sector”, diz o economista do Banco Carregosa.

Já o trader do Banco Best, Ângelo Custódio, considera, em declarações do Jornal Económico, que a decisão das autoridades norte-americanas “poderá levar a uma volatilidade acrescida” no sector, especialmente entre empresas que dependem de publicidade e modelos de negócio baseados em dados, com “impacto direto” nos títulos da Alphabet que “provavelmente estarão sujeitos a uma pressão adicional com potencial impacto na sua cotação” em mercado.

“Numa visão mais global, se o Governo dos Estados Unidos da América forçar tal medida, poderá inspirar ações regulatórias semelhantes noutras jurisdições, particularmente na União Europeia, que tem estado ativa na regulamentação contra as grandes empresas tecnológicas. Esta situação poderá criar um efeito cascata nas estratégias, no posicionamento de mercado e nas perspetivas financeiras das principais empresas globais de tecnologia”, considerou Ângelo Custódio.

O analista da corretora XTB, Vítor Madeira, refere, ao Jornal Económico, que o mercado reagiu negativamente à decisão do Departamento de Justiça norte-americano relativamente à Google.

Vítor Madeira acrescenta que mesmo não existindo uma decisão definitiva o mercado “já está a antecipar” que os Estados Unidos irão mesmo obrigar a Alphabet a vender o Google Chrome, o que irá, no entender do analista da XTB, deve “impactar negativamente a influência do gigante tecnológico”.

O trader do Banco Best, Ângelo Custódio, reforça que a pressão exercida pelos reguladores norte-americanos para que o Google venda o Chrome, alegando a violação da lei da concorrência, terá um “claro impacto” nas receitas e na evolução dos títulos .

“O motor de busca Chrome é um componente essencial do ecossistema Google, contribuindo diretamente para as suas fontes de receita, como é o caso da publicidade e “pesquisa de dados””, explica o trader do Banco Best.

Ângelo Custódio acrescenta que apesar de uma potencial venda do Chrome poder vir a render cerca de 20 mil milhões de dólares à Alphabet (proprietária da Google), os investidores “podem ver o “desinvestimento” como um “revés” para o domínio da empresa na indústria tecnológica, que se pode traduzir numa “redução da sua capitalização-bolsista, caso o mercado aceite que esta venda possa afetar os seus lucros no curto prazo”.

O analista da XTB, Vítor Madeira, destaca a importância que o browser Google Chrome possui para a Alphabet tendo em conta que possui uma quota de mercado a rondar os 65%, baseando-se em dados da Oberlo Statistics.

“Isto permite à Alphabet captar uma parte significativa dos dados dos utilizadores a nível mundial, garantir uma maior e mais eficaz promoção de anúncios, ter uma base de dados maior que permite uma melhoria mais eficaz de ferramentas de Inteligência Artificial (IA), etc.”, explica o analista da XTB.

Vítor Madeira salienta que isto faz com que o Chrome se torne numa “ferramenta claramente relevante” para a Alphabet e a sua venda “poderia impactar” o crescimento da empresa em vários sectores, como o desenvolvimento em IA, ou mesmo levar a diminuição das suas receitas.

O analista da XTB acrescenta que a publicidade vinda das procuras no motor de busca “proporcionou receitas para a Alphabet de 49,4 mil milhões de dólares, como consta dos dados do relatório do terceiro trimestre de 2024, se olharmos para as receitas totais foram de 88,27 mil milhões de dólares, portanto equivale a aproximadamente 56% da total receita da empresa”.

Vítor Madeira considera que se a venda do Chrome se confirmar pode-se assistir a “um novo impulso” da concorrência no que toca aos browsers e motores de busca em linha com a legislação da concorrência e antitrust.

“No entanto, esta decisão pode condicionar o crescimento da Alphabet, o que poderia causar um efeito nefasto no que toca ao desenvolvimento de IA, dado que a Google é claramente uma das empresas mais importantes no que toca à revolução tecnológica da IA. No pior cenário, este efeito negativo pode estender-se ao desenvolvimento tecnológico mundial”, diz Vítor Madeira.

O analista da XTB acrescenta que a eleição de Donald Trump “poderá afetar” a aplicação de leis nas grandes empresas de tecnologia caso Donald Trump venha a substituir Jonathan Kanter, que lidera os esforços antimonopólio do Departamento de Justiça.

“Uma vez que Jonathan Kanter tinha um comportamento rigoroso com as grandes empresas de tecnologia, como a Google e Apple, estas empresas poderão beneficiar desta potencial substituição”, afirma Vítor Madeira.

Atualizado a 26 de novembro às 08h29 com XTB

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