No dia 14 de novembro, chegado de Londres, entro no MyCP online para comprar um bilhete no Alfa Pendular para o dia seguinte, com partida do Porto e destino a Lisboa Oriente.

Chegado ao último passo para efetuar o pagamento e tendo introduzido os dados do cartão, o MyCP congelava e obrigava a repetir o processo, até que numa terceira tentativa surge uma mensagem do género: “O pagamento foi realizado, mas os bilhetes não foram emitidos; o valor será devolvido”.

Resignado, arrisquei tentar no dia seguinte, o que acabei por fazer com sucesso. Embarquei no Alfa das 13:32 na estação de Porto-Campanhã. Chegados à zona de Fátima, o comboio para num solavanco no meio da linha e as luzes apagam-se. Um murmúrio instala-se entre os passageiros.

Após dez minutos, surge uma voz no altifalante: “Estimados passageiros, informamos que o comboio se encontra parado. Isto deve-se a uma avaria no nosso sistema. Estamos à espera de instruções e voltaremos ao contacto assim que soubermos mais informações”.

A mensagem foi recebida entre risos nervosos e frustração pelos passageiros portugueses, e incompreensão e confusão pelos muitos estrangeiros. Chegamos a Lisboa-Santa Apolónia com 60 minutos de atraso.

Fazendo uso da lei de Pareto, que nos diz que 20% das causas produzem 80% dos efeitos, o Governo decidiu atacar a causa número um dos problemas da CP: reforçando a Lei n.º 16/2011, de 3 de maio, que proíbe “os maquinistas de desempenharem as suas funções sob influência de álcool, estupefacientes ou substâncias psicotrópicas”.

Os sindicatos consideraram um desrespeito, ao que respondeu o ministro das Infraestruturas, de que a ação do Governo de rever a lei, e a premissa de que os maquinistas abusam da pinga, não estão correlacionadas. O Governo reforçou a lei, porque sim. Sem intencionalidade. Chama-se a isto políticas públicas baseadas em evidência, atacando as causas que mais explicam os efeitos (do álcool e das drogas, claro).

Um excelente exemplo de relação com os stakeholders e de humildade na liderança. Já agora, Senhor Ministro, acho que o diploma se deveria estender aos sindicatos, que estas reações despropositadas e leituras distorcidas têm, certamente, uma explicação semelhante à da sinistralidade ferroviária. E não seria pior estender também aos gabinetes do Governo. Pode ser que se conduza o país com menos acidentes. Um combate importante, a sinistralidade governativa.