A grande vantagem de Elon Musk era simples: um tipo que vem da economia digital e que, já rico, salta para a economia industrial com tanta escala e inovação — os carros eléctricos — que acaba por revolucionar um sector hiper–competitivo, colocando, pelo caminho, a Alemanha de joelhos. A isto junta ambições espaciais, a conquista do universo próximo com um destino na cabeça, Marte, e o domínio das ligações por satélite. No meio desta revolução, inteligência e energia ilimitadas, Musk juntou-se ao poder e quer mandar no mundo. De anti-herói passou a perigoso homem dos bolsos sem fundo e das causas subterrâneas. Esbanjou dinheiro na compra do Twitter — uma operação que teria posto em risco de vida grande parte dos empresários de calibre máximo —, e toma partido político nos principais assuntos: China, Ucrânia e Rússia, eleições americanas, posições pró-Bolsonaro no Brasil, vacinas. Na verdade, não toma apenas partido, age, condiciona, cultiva a desinformação, embora disfarçando-a de liberdade de expressão. A ignorância tecnocrática talvez não lhe tenha permitido entender que a liberdade de uns termina onde começa a liberdade dos outros — ou então, o que é mais provável, sabe e está-se nas tintas. A nova ordem global encabeçada pelo próximo presidente americano encontra nesta hidra o foguetão que os leva longe. Já há muito que deixei o Twitter (hoje X) porque não frequento sítios onde o extremismo come a razão e devora quem o afronta. Mas não basta um clique isolado: o que Musk e, disfarçadamente, fazem as grandes empresas digitais, é tirar um pedaço de cada um de nós, comercializá-lo e fazer de conta que são os novos libertadores.