Há algum tempo que são visíveis sinais da deterioração da ética, entendida como a procura da melhor forma de viver e agir, e da moral, a concretização da ação. O modo como vamos aceitando, enquanto sociedade, a intervenção de figuras públicas no espaço público com informação errada, mentiras – que hoje em dia se transmutaram em inverdades – ou discursos divisivos sem crítica, normalizando a postura, é um sinal. Gente assim é eleita, escolhida para nos representar. Também, o interesse individual – ou minoritário – sobrepõe-se ao coletivo. O perdão presidencial concedido por Joe Biden ao filho antes de deixar a Casa Branca é um sinal óbvio. Seria muito difícil, politicamente, sobreviver a isto sem ser submerso numa mancha crítica na honra e no legado. Já não é, apesar da comoção gerada. E o próximo presidente norte-americano, Donald Trump, não vai repor a fasquia, pelo contrário, vai agravar este quadro, julgando pela prática e pelo que defende. Mas já o sabíamos e Trump foi eleito com um resultado sem margem para discussão, o que indicia que os eleitores estão dispostos a esse trade off, a trocar a possibilidade de maior riqueza ou segurança, de políticas que entendem como respostas mínimas aos seus anseios, ainda que sacrificando outros valores que consideramos importantes em sociedade. Não é uma excentricidade do lado de lá do Atlântico; entre nós temos o rouba, mas faz, que representa o mesmo. A questão, aqui, é a banalização, quando passamos a aceitar decisões, ações, comportamentos que representam retrocessos, mas que apenas vemos como sinal dos tempos e respondemos com um encolher de ombros.