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Gigante nipónico que deu três campeonatos a Ayrton Senna prepara fusão

Fusão Honda-Nissan vai criar o terceiro maior produtor automóvel mundial. Piloto brasileiro tornou-se lendário ao volante de um McLaren-Honda.
Ayrton Senna ao volante de um McLaren-Honda em 1988
19 Dezembro 2024, 07h00

Há 35 anos, um então piloto de Fórmula Um testou um protótipo da Honda na mítica pista japonesa de Suzuka, para afinar o automóvel na fase final de desenvolvimento. O protótipo viria a dar origem ao Honda NSX e o piloto viria a tornar-se lendário em todo o mundo.

Para a história, ficaram os três títulos conquistados por Ayrton Senna ao volante de um McLaren-Honda, tendo apaixonado os aficionados de Fórmula Um em todo o mundo que viam no piloto brasileiro um underdog perante as forças britânicas, italianas ou francesas que dominavam então o paddock. O seu primeiro campeonato foi conquistado ao volante do clássico MP4/4 em 1988.

Agora, a Honda pode vir a juntar forças com um rival nipónico: a Nissan. O objetivo é criar o terceiro maior grupo automóvel mundial. Os dois construtores automóveis nipónicos estão em conversações que incluem o cenário de fusão, mas pode ficar apenas a meio caminho: maior cooperação tecnológica e mais sinergias para combater a Toyota.

As marcas preparam-se para enfrentar os rivais chineses e a Tesla, num sinal de que o antes imbatível setor automóvel nipónico, numa excelente relação de qualidade versus preços competitivos, já não é tão imbatível assim.

Uma fusão criaria uma companhia a valer 54 mil milhões de dólares que produz anualmente 7,4 milhões de automóveis. Em termos de vendas, ficaria apenas atrás da gigante nipónica Toyota e dos alemães da Volkswagen, que atravessam um mau momento.

“Este negócio parece que serve mais para salvar a Nissan, mas a Honda também não pode ficar a descansar sobre as suas conquistas. O cash flow da marca vai deteriorar-se no próximo ano e não tem estado bem nos carros elétricos”, disse à “Reuters” Sanshiro Fukao, do Itochu Research Institute.

Como maior acionista da Nissan (36%), a francesa Renault está aberta a examinar as condições de uma fusão, avançou a “Bloomberg”. A Nissan é também a maior acionista da nipónica Mitsubishi, com 24%.

A Nissan está sob grande tensão. A companhia anunciou, em novembro, um plano de cortes no valor de 2,6 mil milhões de dólares, que inclui despedir 9 mil trabalhadores e reduzir 20% da sua capacidade global de produção. A razão? A queda das vendas na China e nos EUA, que levou os lucros a afundar 85% no segundo trimestre.

As ações da Nissan dispararam para os 24% na bolsa de Tóquio na quarta-feira, um recorde. A companhia perdeu dois terços do seu valor desde a prisão do ex-presidente Carlos Ghosn, que fez a fuga do século do Japão, para escapar ao julgamento por quatro acusações de má conduta financeira. O gestor brasileiro sempre negou as acusações e vive no Líbano desde a sua fuga.

Já as ações da Honda recuaram 3%; a companhia vale 43 mil milhões de dólares, quatro vezes mais do que o valor da Nissan. As ações da Mitsubishi, por sua vez, subiram quase 20%.

As negociações aceleraram com o interesse da Foxconn de Taiwan, que produz, por exemplo, iPhones para a Apple, em comprar uma participação na Nissan. A companhia de Taiwan tem estado a investir fortemente em fábricas para construir veículos elétricos.

Em termos de vendas mundiais este ano, a Honda tem a BYD a morder-lhe os calcanhares: os nipónicos venderam 2,8 milhões de automóveis contra os 2,75 milhões dos chineses. A Nissan vem atrás com 2,5 milhões de unidades, mas os também chineses da Geely contam com 2,3 milhões de unidades vendidas. A Toyota lidera as vendas mundiais este ano: 7,9 milhões, seguida da Volkswagen com 6,5 milhões e da Hyundai com 5,4 milhões, segundo dados da “Reuters”.

Já os analistas da S&P Global Ratings têm uma postura mais cautelosa. “Existem poucos casos em que as fusões e alianças entre grandes produtores automóveis levaram a benefícios significativos”.

Do Mizuho Bank chega um alerta: “A Honda tem uma cultura única centrada na tecnologia com força nos motores, portanto deverá haver alguma resistência interna a uma fusão com a Nissan, um concorrente com uma cultura diferente que está agora em dificuldades”.

Por seu turno, o Tokai Tokyo Intelligence Laboratory considera que a fusão será boa para a indústria automóvel nipónica porque cria um novo “eixo contra a Toyota”. “A rivalidade construtiva com a Toyota é positiva para a estagnante indústria nipónica quando tem que competir com os rivais chineses, a Tesla e outros”.

Ayrton Senna e Portugal tiveram uma forte ligação, além do grande carinho dos aficionados lusitanos. O piloto canarinho venceu o seu primeiro Grande Prémio no autódromo do Estoril em 1985, ao volante de um Lotus-Renault. O piloto tinha também uma casa na Quinta do Lago, no Algarve.

Em Portugal, o piloto mantinha um Honda NSX, de cor vermelha, com a matrícula SX-25-59, de 1991. O automóvel foi colocado à venda este ano por quase 600 mil euros pelo seu dono, um cidadão britânico que levou o automóvel em 2013 para o Reino Unido, noticiou o “Razão Automóvel”.

Já a casa algarvia que pertenceu ao piloto foi colocada à venda por 10 milhões de euros em 2015; na altura, o seu proprietário era um cidadão britânico que a tinha comprado em 2013, segundo o “Sul Informação”.

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