Num artigo de 18 de Dezembro, a BBC, após análise compreensiva de dados do Facebook, conclui que esta rede social restringiu, deliberadamente, conteúdos publicados na sua plataforma provenientes de jornalistas no interior de Gaza. Sendo expectável, durante períodos de guerra, que a interacção dos utilizadores (comentários, reacções e partilhas) com notícias relacionadas aumente, desde o dia 7 de Outubro de 2023 a interacção com os conteúdos de agências noticiosas palestinianas caiu 77% face ao período anterior. Isto ao passo que o mesmo indicador, no mesmo período, aumentou 32,5% em média em outras agências noticiosas árabes (mas não palestinianas), e 37% em média em 20 meios noticiosos israelitas.
Há cerca de dois meses publiquei um artigo na rede social LinkedIn onde criticava Naftali Bennett – antigo primeiro-ministro de Israel por 15 dias – por qualificar António Guterres de cobarde e palhaço. O artigo praticamente não circulou e comparativamente aos meus outros artigos que aí costumo publicar, com um número de impressões a variar entre 600 e 3.500 em média, este teve apenas 149 impressões.
Mas, há duas ou três semanas, deparei-me com um vídeo caseiro, não identificado, publicado no LinkedIn com milhares de gostos que alegadamente retratava um membro das IDF (o exército israelita) a proteger uma jovem mulher palestiniana de pedras atiradas por outros palestinianos. A fonte original? O Facebook, com 133 mil visualizações e 7,8 mil reacções, mas sem validação possível de como, quando, onde e em que circunstâncias o vídeo foi realizado.
Achei aquilo estranhíssimo. Depois do escândalo Cambridge Analytica a envolver o Facebook e a primeira eleição de Donald Trump, parece que a Meta está agora a procurar controlar a narrativa e as notícias que emergem desde Gaza. O Facebook Oversight Group, grupo independente dentro do Facebook Inc., integra 20 elementos, incluindo personalidades como a antiga primeira-ministra dinamarquesa Helle Thorning-Schmidt, que também foi CEO da ONG internacional Save the Children e chegou a estar na corrida a Alta-Comissária para os Refugiados. Ou ainda a Nobel da Paz de 2011, Tawakkol Karman, vista como activista dos direitos humanos e jornalista crucial no espoletar da Primavera Árabe de 2011.
O Oversight Board é um órgão que toma decisões que criam precedentes em relação a decisões de moderação de conteúdo, tanto no Facebook como no Instagram, numa espécie de auto-regulação ou autogoverno. Ora, é preocupante que a Meta esteja a contribuir para a opacidade do que se passa em Gaza quando as IDF não permitem a entrada de jornalistas e se estime em 137 os jornalistas locais mortos. O Oversight Board está capturado ou é incapaz?
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.