As cambalhotas argumentativas que se têm feito ouvir ao longo da última semana na ânsia de justificar a operação policial na Rua do Benformoso são a prova do erro cometido pelo Governo. As justificações avançadas pelos cortesãos (políticos e comentadores) parecem um sketch dos Gato Fedorento de tão absurdas que são. Comparar a rusga do Martim Moniz ao que acontece dentro dos estádios de futebol, como se andar numa rua de Lisboa – num dia como todos os outros – fosse o mesmo do que ir a um jogo da Liga dos Campeões, revela apenas manipulação grosseira dos factos.

É evidente que o contexto importa muito e até pode justificar uma medida tão invasiva como ser revistado – mas passear na Rua do Benformoso não pode ser considerado um ato suspeito. É verdade que o profiling policial sempre existiu e até encontra algumas justificações legítimas e proporcionais – por exemplo, nos postos fronteiriços, onde a dúvida faz parte do método de trabalho –, mas é intolerável que um governo use a cor da pele de alguém que passeia normalmente como livre-trânsito para uma fatal presunção de culpa: não vais preso, mas serás humilhado, para que fique o exemplo a todos os que são como tu.

Felizmente, a polícia geriu a situação com serenidade, embora não seja líquido que a próxima vez corra tão bem. Realmente, é muito mais fácil lançar operações de raiz xenófoba do que garantir que os processos de legalização são aprovados em tempo útil. Luís Montenegro foi oportunista e preguiçoso. Esperamos muito mais dele em 2025.