Portugal e Brasil possuem uma relação que transcende a história e o idioma, e que, hoje, ganha uma dimensão estratégica no cenário econômico global. Enquanto a Europa enfrenta desafios como o envelhecimento populacional, o aumento das tensões geopolíticas e a necessidade urgente de transição energética, a parceria luso-brasileira surge como uma oportunidade única para reequilibrar forças e injetar dinamismo no continente.

Portugal, com sua posição privilegiada como porta de entrada para a União Europeia (UE), pode atuar como mediador entre o Brasil e os mercados europeus. O Brasil, por sua vez, com seus vastos recursos naturais, mercado interno vibrante e capacidade de produção agrícola e energética, tem o potencial de oferecer à Europa os insumos, talentos e inovação necessários para enfrentar seus desafios estruturais.

Um dos novos pilares dessa relação é o Acordo de Mobilidade da CPLP, agora implementado plenamente por Portugal. Essa iniciativa tem permitido que brasileiros se estabeleçam e trabalhem em território português com menos burocracia, fortalecendo a economia local e contribuindo para mitigar o impacto do envelhecimento populacional na Europa. Desde 2023, milhares brasileiros ingressaram no mercado de trabalho português, especialmente em setores estratégicos como tecnologia e saúde, usando de forma inovadora uma verdadeira cidadania da língua.

Portugal também lidera na União Europeia a defesa de direitos especiais para cidadãos brasileiros, ampliando o acesso ao mercado de trabalho em outros países do bloco. Esse esforço não apenas beneficia os brasileiros, mas também posiciona Portugal como um ator chave na construção de pontes entre o Sul Global e a Europa.

Com um crescimento econômico consistente, mesmo apesar das suas contradições económicas internas – juros altos com uma inflação controlada – o Brasil é hoje uma das principais fontes de insumos para a Europa.

Os dados mais recentes apontam um aumento de 18% nas exportações brasileiras para a Europa em 2024, atingindo um total de €52 bilhões. Os principais destinos foram Portugal, Alemanha, Espanha e França, consolidando o bloco europeu como o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. E embora soja, carne, minério de ferro e celulose continuem a liderar as exportações, há um movimento crescente em setores de maior valor agregado, como alimentos processados, equipamentos industriais e tecnologias limpas. Só para Portugal as exportações brasileiras cresceram 22%.

Ao mesmo tempo, o Brasil tem se mostrado um parceiro estratégico na transição energética global. O acordo firmado entre empresas brasileiras e portuguesas para a produção de hidrogênio verde é um exemplo de como essa parceria pode alavancar a agenda de sustentabilidade europeia, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis e promovendo tecnologias limpas.

O turismo também é um setor que reflete o potencial dessa relação. Portugal recebeu mais de um milhão de turistas brasileiros em 2024, gerando €900 milhões para sua economia. Além do impacto direto no setor de serviços, essa movimentação fomenta parcerias culturais e empresariais, criando um círculo virtuoso de integração econômica e social.

A cúpula Brasil-Portugal, programada para janeiro de 2025, será o palco para consolidar essa parceria. Entre os tópicos em discussão estão o reconhecimento automático de diplomas, a criação de fundos conjuntos para inovação e o fortalecimento da integração econômica no âmbito do acordo Mercosul-União Europeia. Essas iniciativas têm o potencial de posicionar Portugal como o principal mediador de uma nova relação entre o Brasil e a Europa, promovendo um modelo de desenvolvimento que combina sustentabilidade, inclusão e inovação.

Portugal e Brasil não são apenas parceiros históricos; juntos, eles podem redesenhar o futuro econômico da Europa. Enquanto Portugal oferece estabilidade, acesso ao mercado europeu e uma conexão cultural única, o Brasil traz inovação, recursos e a capacidade de pensar soluções em escala global.

Essa colaboração não é apenas bilateral; é um modelo de como o Norte e o Sul podem trabalhar juntos, sentados à mesma mesa em pé de igualdade, para enfrentar os desafios de um mundo cada vez mais interconectado. A pergunta agora não é se essa parceria pode salvar a economia europeia, mas quando ela começará a fazer a diferença. A resposta, ao que tudo indica, já está em curso.