“A economia é o que fazem os economistas”.

A afirmação, é de Jacob Viener, um economista da escola de Chicago que chegou a concordar com Keynes no que respeita á eficácia da política económica no curto prazo, mas discordava que ela produzisse efeitos a longo prazo.

Viener foi, sem dúvida, um vulto importante da teoria económica e as suas ideias foram referência, não apenas na construção da teoria económica neoclássica, mas também na discussão que se seguiu à chamada segunda crise da teoria económica, quando a teoria keynesiana, dominante no período posterior à segunda guerra mundial, foi posta em xeque na sequência da ocorrência de um fenómeno “inexplicável” – a estagflação.

Que relação podemos estabelecer entre estas duas considerações?

Numa primeira leitura, a afirmação de Viener parece não passar de uma tautologia.

Numa leitura mais serena, porém, a afirmação adquire um significado profundo e moderno. A economia é um objeto em permanente transformação, dependendo da evolução da ciência económica, por um lado, da evolução da realidade económica, por outro e, por último, da síntese entre a evolução da formação dos Economistas e a sua capacidade de compreenderem e de incorporarem na ciência económica, as transformações da economia e os novos fenómenos económicos que elas fazem emergir. A estagflação é apenas um caso particular.

Sem dúvida que hoje, a realidade económica, seja em que dimensão for considerada, é muito diferente do que era no período do pós-Segunda Guerra Mundial, no período pós-crise energética dos anos 70 do século passado, ou mesmo no período que se seguiu à crise de 2008-2009. E não deixa de ser outra coisa, quando consideramos o período pós-Covid e os acontecimentos que se seguiram, com as guerras da Ucrânia e do Médio Oriente. E vamos ver o que acontecerá, na sequência da tomada de posse do novo presidente americano.

E aqui vamos ao encontro da segunda consideração.

Desde a origem da economia como oikos nomus, ou administração da casa, como era vista por Aristóteles, até aos nossos dias, como administração do Estado e das suas múltiplas dimensões particulares, os “Economistas”, independentemente das suas referências mais intervencionistas ou mais liberais, tiveram sempre um papel fundamental. As suas análises, as suas proposições ou as suas atuações, nos planos microeconómico, sectorial, macroeconómico, de apoio à decisão política, ou mesmo no plano da decisão política, não deixaram de influenciar a evolução da própria realidade económica. E a ciência económica evoluiu, produzindo novas sínteses no quadro da disputa teórica e novos paradigmas dominantes que, independente da sua maior ou menor coerência interna, se tornaram referência para a intervenção dos responsáveis políticos.

Estamos numa fase em que os Economistas são uma vez mais chamados a desempenhar um papel fundamental. Um papel de análise e reflexão, mas também de procura de novos modelos económicos que permitam superar os constrangimentos e encontrar respostas para os problemas que são evidentes, mas que os responsáveis políticos se têm recusado a considerar na sua real dimensão e potencial de destruição.

Como dizia Keynes no seu prefácio à Teoria Geral, o “difícil não é aderir às novas ideias, o difícil é libertar-se das antigas”. E esta afirmação adquire pleno significado nos dias de hoje. Cabe aos Economistas um papel insubstituível na libertação das ideias antigas. E, quanto mais não seja, na produção de bom senso que é coisa que escasseia nos tempos que correm.