O contributo da agricultura portuguesa para o PIB tem caído nas últimas décadas, naturalmente, à medida que o perfil da economia mudava, assentando nos serviços, mas mais do que devia, que nos pares do Sul da Europa a quebra não foi tão profunda como aqui, que tombou para um quarto do peso dos anos 80. Nos últimos três anos até se inverteu a tendência, mas à força de subsídios, a pulso de empresários insatisfeitos e quase por carolice.

A agricultura foi abandonada como uma atividade arcaica, ultrapassada, que fica melhor escondida do que à vista, e o país rural foi abandonado com ela. Percebe-se, que dá pouco à economia e, pior, concentra-se em círculos com poucos votos, que pouco acrescentam à contabilidade política nacional. Investir numa estrada na faixa urbana entre Braga e Setúbal, junto ao mar, tem maior rendimento nas urnas do que uma barragem no outro país, que começa a pouco mais de 50 quilómetros da linha de praia e se prolonga até Espanha.

Só que, quando nos preocupamos em fazer as contas – aos euros e até aos votos –, percebemos que investir na construção do Alqueva já gerou 3,2 mil milhões de riqueza, uma Autoeuropa. Foi um investimento que já se pagou, com juros, e continua a dar rendimento. Mas não aprendemos, porque percebemos também agora que o fisco perde mais de 60 milhões de euros por ano por não se resolver o problema do abastecimento de água no sudoeste alentejano e no Algarve. Sem falar na criação de emprego e na fixação de habitantes em concelhos que correm para a desertificação. Mas vamos acreditar que os decisores vão sair da cidade, um dia, sem ser para ir a banhos.