Trump chega já na segunda-feira à Casa Branca.

As primeiras horas deverão ser marcadas por inúmeras ordens executivas, com vista a cumprir as promessas feitas na campanha eleitoral. Desde tarifas dirigidas primariamente à China, a alterações na imigração, proteção de fronteiras ou a proibição do TikTok, certo é que teremos uma ideia do que vão ser os próximos quatro anos.

Algumas destas medidas, se não forem doseadas no tempo, terão impacto na inflação, o que, por si só, poderá limitar a política monetária e travar a descida de juros. Ao retirar pessoas do mercado de trabalho, onde a oferta já é escassa, o preço da mão de obra pode subir, refletindo-se no aumento de preços. Ao mesmo tempo, as novas sanções à Rússia e ao Irão têm consequências no mercado do petróleo, contribuindo igualmente para a subida do preço de uma matéria-prima da qual o mundo ainda depende.

Não admira, por isso, que as expectativas de evolução dos juros nos EUA sejam agora de pausa na redução. Na Europa, a braços com uma estagnação, vários políticos e responsáveis de bancos centrais continuam a apelar à redução dos juros, esquecendo que o mandato do Banco Central Europeu (BCE) visa a estabilidade da inflação nos 2% e não o crescimento.

Com o diferencial de juros entre EUA e Zona Euro a aumentar, o dólar regista uma valorização substancial, atingindo quase a paridade contra o euro.

Neste aspecto, a Europa volta a ser fortemente penalizada, pois se por um lado um euro mais fraco ajuda a exportar mais, por outro falta saber o que iremos exportar numa economia mundial mais fechada. A moeda, ao desvalorizar, aumenta o custo dos bens importados, pois são necessários mais euros para ter o mesmo produto, o que acaba por se refletir no preço final, ou seja, na inflação.

E aqui teremos uma surpresa em 2025: os juros na Zona Euro não irão descer tanto quanto se pensa. Neste momento, o mercado espera uma redução de 1% nos juros, mas com a pressão que virá sobre os preços em resultado da desvalorização do euro e da subida de preços, correremos o risco de, quando muito, os juros descerem apenas 0,5% para estabilizarem nos 2,5%.

Esta poderá ser uma pressão adicional sobre os políticos europeus para iniciarem reformas, que até agora têm acreditado que o BCE vai resolver todos os problemas de competitividade da Europa, quando, na realidade, por cada ano que adiamos a integração europeia perdemos dez de competitividade face aos EUA.

A corrida está quase a ser perdida, o não retorno atingido e Trump sabe disso!