Um governo que gasta demasiado tempo a imaginar percepções corre o risco de ir perdendo o contacto com a realidade. Luís Montenegro está tão preocupado com o resultado das próximas legislativas, provavelmente já em 2026, que tem acontecido perder-se na espuma dos dias. Se o wokismo nacional, santificado pelo Bloco, é péssimo para o país e representa um retrocesso civilizacional, o movimento MAGA, que inspira o rancor social e economicamente estúpido do Chega contra os imigrantes, também penaliza o país ao incentivar o Governo e o presidente da Câmara de Lisboa a construir percepções falsas sobre segurança e imigração.
Quando, pelo contrário, Luís Montenegro se concentra no real e factual, há boas hipóteses de acontecer alguma coisa de bom. O programa apresentado ontem é um óptimo exemplo do que devem ser as políticas públicas nesta área. Reduzir a burocracia, simplificar e uniformizar procedimentos pode soar a velho, mas não é – é, sim, o fim de um longo ciclo em que o Estado se instalou na economia, tudo complicou e tudo exigiu aos contribuintes.
Se Luís Montenegro, Miranda Sarmento e Pedro Reis conseguirem codificar o que está disperso, rejeitando pelo caminho um número considerável de taxas e taxinhas absurdas, mais de quatro mil, então, o crescimento do país pode ganhar velocidade. As contribuições extraordinárias, alojadas por toda a parte – banca, energia, dispositivos médicos, distribuição… –, apesar de terem nascido para dar resposta a uma situação de emergência financeira temporária, têm de acabar. Esta limpeza será um importante serviço à nação.