Os desdobramentos da tensão Estados Unidos-China têm implicações profundas para a Europa, que enfrenta não apenas questões econômicas e energéticas, mas também problemas estruturais relacionados à sua soberania.
A dependência europeia em relação aos Estados Unidos é notória, especialmente no campo militar. Desde a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos têm desempenhado o papel de principal fiador da segurança europeia. O aumento dos gastos militares, incentivado por Washington, reflete não apenas a necessidade de fortalecer a defesa diante de ameaças globais, mas também os interesses estratégicos da indústria de defesa norte-americana. Para os Estados Unidos, a Europa representa uma ilimitada fonte de recursos financeiros, tanto para aquisição de armamentos fabricados por sua indústria de defesa quanto para a crescente importação de petróleo e gás natural liquefeito.
Desde a guerra na Ucrânia, a Europa tem aumentado significativamente suas compras de energia dos Estados Unidos, buscando substituir a dependência dos hidrocarbonetos russos. Essa transição de segurança energética do continente criou dependência centrada em Washington. A administração Trump já deixou claro seu desejo de desacelerar a transição para uma economia verde por entender que beneficia desproporcionalmente a China, que domina o mercado global de tecnologias limpas, como painéis solares e baterias de lítio. Ao enfatizar o uso dos combustíveis fósseis, Trump pretende incrementar as exportações à Europa e consolidar a posição norte-americana como maior produtor global de petróleo.
A postura de Washington deveria reforçar um dilema para os europeus. Por um lado, a dependência de energia e segurança norte-americana os coloca em uma posição subordinada, limitando sua soberania, já reduzida em razão da presença militar dos Estados Unidos no continente. Por outro, a política de desaceleração da economia verde defendida por Trump contrasta com as ambições europeias de liderar a transição energética global. A Europa corre o risco de ser pressionada a adotar políticas mais alinhadas aos interesses norte-americanos e perder a capacidade de competir com a China em tecnologias verdes.
Para garantir sua relevância global e preservar sua soberania, a Europa deveria fortalecer sua autonomia estratégica, diversificar suas fontes de energia (inclusive ressignificar a relação com a Rússia) e investir em tecnologias de defesa e inovação sustentáveis.
Enquanto as escolhas estratégicas europeias forem moldadas pela dependência de potências externas, o continente permanecerá vulnerável às dinâmicas da rivalidade sino-americana, o que a levará a sacrificar sua independência e valores fundamentais.