Uma esmagadora maioria das casas para habitação nos EUA é feita com recurso à madeira, uma matéria-prima abundante, tradicional, renovável, económica e com inúmeras outras vantagens como a de oferecer um comportamento antissísmico bom, particularmente importante na Califórnia.

A madeira aparece combinada com outros materiais, incluindo o aço para outras soluções estruturais, o betão para fundações, o tijolo para muros e paredes e outros com características isolantes térmicas e acústicas.

A construção americana de baixo custo e que conhecemos dos programas televisivos de remodelação – onde facilmente se destroem paredes e tetos – corresponde a uma construção ligeira onde há uma base em molduras de madeira, junto com materiais que ardem.

Alguns destes materiais, mesmo não ardendo, fundem-se com o calor e desaparecem, deixando de constituir qualquer tipo de barreira à propagação do fogo.

Ora, em Portugal e na Europa, não estamos a considerar a construção ligeira, tipo americana. Recorremos a componentes em madeira, que ficam embebidas na massa do edifício e ficam protegidas, capazes de resistir ao fogo e com uma resistência e solidez diferentes.

Mas então a madeira não arde? Sim, arde, mas é preciso que tenha condições e tempo para isso.

E um incêndio num edifício em betão? O betão não arde, mas o calor que se desenvolve vai afetá-lo e até mais depressa do que num edifício de madeira. O que se passa é que o calor seca o betão – o que o fragiliza – e depois aquece o aço, que o constitui e que lhe dá estrutura e resistência. O aço começa por dilatar e depois amolece, perdendo resistência, no limite, até ao colapso do edifício. Foi, aliás, o que aconteceu no World Trade Center (Torres Gémeas) em Nova Iorque, que resistiram ao embate dos aviões, mas não ao calor que se desenvolveu e amoleceu as estruturas metálicas, conduzindo ao seu desmoronamento.

Num edifício, o que é importante não é tanto saber se arde ou não, mas quanto tempo têm os ocupantes para sair em segurança. Um edifício em madeira oferece um tempo de resistência maior[1].

Com a madeira o fogo vai propagar-se de fora para dentro, queimando-a por fora e progredindo lentamente – a madeira tem uma condutibilidade térmica baixa – o que pode permitir que o fogo seja extinto e a resistência estrutural não seja afetada.  A casa fica de pé, tal como muitas árvores ficam de pé na floresta, depois de passar o incêndio que as queimou por fora.

No caso dos incêndios avassaladores da Califórnia, arderam mais casas em madeira? Certamente que sim, pois a construção ligeira em madeira é predominante nos EUA. Mas outros tipos de casas também foram destruídos.

A explicação para estes incêndios deve começar pelas profundas alterações climáticas que nós causamos, e, depois, pela falta de prevenção a nível da limpeza da floresta, a falta de estabelecimento de zonas de vegetação controlada junto das casas, a eventual falta de disponibilidade de água, a falta de instalação de meios de combate individuais ou locais para fogos [2], entre outras condicionantes.

Mas não é aceitável apontar-se o dedo a “falsos culpados” como a construção em madeira ou qualquer outra.

[1] (vídeo de Ingus Pavasars, Lituânia: Fire test: wooden house versus ordinary house)
[2] Aponta-se ainda como potencial causa de ignição, linhas de transmissão de eletricidade deficientemente mantidas, o que aumenta a sua probabilidade de queda e/ou de proximidade à vegetação combustível.