A utilização do termo competitividade banalizou-se, nas três ou quatro últimas décadas. É utilizado na Economia, nas diferentes dimensões, micro, meso, macro, transversal, ou vertical, nacional, internacional ou global, mas também noutras áreas, incluindo a Psicologia, os Comportamentos, a Política, etc.

A maior parte das vezes, infelizmente, é utilizado de forma simplista, sem ter presente a complexidade que está associada à sua génese, desenvolvimento e sustentabilidade, no médio e longo prazo.

Uma das mais interessantes definições de competitividade deve-se ao professor Emérito Stéphane Garelli, referência das análises promovidas pelo IMD. Segundo este autor, e fazendo uma tradução livre, “A competitividade é a capacidade de criar valor acrescentado e, portanto, de aumentar a riqueza nacional através da gestão de ativos e processos, de atratividade e agressividade, de globalidade e proximidade, e integrando estas relações num modelo económico e social” (“World Competitiveness Yearbook”, 1966).

Esta definição implica considerar a relação entre o ambiente nacional de um país – onde o Estado tem um papel fulcral – e o processo de criação de riqueza, levado a cabo pelas empresas e pelos diversos agentes económicos. Isto significa, ainda, que um país pode ser rico e não necessariamente competitivo, vivendo de rendimentos sem, efetivamente, criar valor acrescentado novo. Ou pode não ser tão rico assim e ser competitivo, criando efetivamente valor acrescentado novo.

Nesta perspectiva, a competitividade não poderá ser resumida a uma simples expressão cardinal, mas antes a um conjunto de fatores que, integrados, contribuem para a criação de um ambiente económico próprio que permite o desenvolvimento competitivo e sustentado de um país.

Vários serão esses fatores, variando com o tempo, as alterações estruturais da economia e a envolvente externa do país. Mas, não poderão deixar de estar ligados ao desempenho económico geral, à eficiência da ação governativa, à eficiência do sector empresarial ou ao nível e qualidade geral das infraestruturas, sem esquecer o funcionamento das instituições, ou a evolução do nível educacional, cultural e de saúde pública.

Isto significa, também, que a competitividade de um país não pode ser obtida apenas a partir da mera agregação de desempenhos particulares, mas através da criação de um sistema integrado, com diferentes níveis de produção de eficiência e desempenho que vão do nível empresarial à definição da política económica pelo Estado, passando pela introdução de uma perspectiva estratégica que deve permitir a integração de projetos e a sua coerência sistémica.

A dinâmica de globalização, assente na acelerada abertura das economias e na constituição de cadeias globais de valor acrescentado, parece ter entrado em regressão, com a emergência de novas tendências que apontam para um fracionamento da economia global, a constituição de polos de interesses diferenciados e mesmo antagónicos, e movimentos espontâneos ou forçados de renacionalização económica sob diferentes formas, incluindo uma nova reindustrialização e reforço de relações de proximidade, baseada em afinidades de diversa natureza.

Portugal não se pode resignar a ser um agente passivo desta reconfiguração profunda das relações económicas que se está a processar à escala global, devendo desde já preparar-se para responder aos desafios de uma nova competitividade que assentará, sobretudo, em mais diversificação, coerência e sustentabilidade dos sistemas produtivos internos e maior flexibilidade na resposta aos novos estímulos externos.

É tempo de se pensar na produção de uma parceria entre o sector empresarial e o Estado que permita explorar as vantagens da iniciativa privada e do funcionamento do mercado, em articulação com a introdução de uma perspectiva estratégica de longo prazo. Uma espécie de Parceria Público-Privada macroeconómica que permita produzir uma competividade sistémica que se afirme como novo paradigma da economia portuguesa.