A vida não tem estado fácil para os incumbentes, para as lideranças das instituições, no geral, ou para os tecnocratas que lhes dão forma. Não é um movimento de agora, mas tem-se aprofundado, em todo o lado, na Europa, nas Américas, em que têm sido um alvo claro de contestação, de manifestações, de intervenções ruidosas no espaço público. A ascensão do populismo também passa por aqui, quando as pessoas veem como insuficientes as respostas para os problemas que consideram ser realmente os seus. Têm sido votos óbvios contra a tecnocracia, a regulação excessiva, a imposição de escolhas.

Assim, o regresso de Donald Trump à Casa Branca, pela conquista absoluta que teve, é um marco, uma evidência da reação, de que o vento mudou. É a desculpa para se rasgarem acordos, para se ignorarem regras, práticas e ideias. Nos Estados Unidos, sim, mas pelo efeito de arrasto noutras regiões, incluindo a Europa, onde já se chegou às palavras – veja-se França –, mas a que sucederão atos.

Os estudos de opinião, por exemplo na OCDE, mostram que existe uma crise generalizada de confiança nas instituições, o que torna mais difícil uma resposta a situações de exceção, como a pandemia, uma crise económica ou um risco de segurança. Sem confiança nas instituições, a sociedade definha e a democracia com ela.

A atual situação é uma oportunidade de calibragem, de revisão do caminho que está a ser feito, o que em muitos casos significará parar ou mesmo retroceder, porque afinal não era por aí. Mas tendo sempre a noção de que há problemas para resolver, como o da igualdade ou os efeitos das alterações climáticas. E procurando escapar à terraplanagem, a deitar tudo fora, inclusive o bebé com a água do banho.