A venda de parte do Novobanco – seja direta ou através da dispersão em bolsa – é o grande negócio deste ano em Portugal. Não há qualquer dúvida sobre isso. É importante do ponto de vista financeiro, mesmo que sejam os 30% comentados, claro, mas é ainda mais importante saber em que mãos pode ficar o seu controlo.
Se for uma venda direta, no quadro de um processo de consolidação, pode alterar significativamente o setor bancário em Portugal, porque fecha o mercado a mais operações relevantes. O BCP compra e assume a liderança. Se o Santander avançar, pode disputar a primazia, se for o CaixaBank, passa a ser a terceira instituição do sistema, mas, nestes dois últimos casos, qualquer que seja o comprador, o resultado será que a banca espanhola dominará mais de 30% do mercado português; mais, se incluirmos aqui o Abanca, que comprou o Eurobic; mais ainda no caso do crédito às empresas, em que valerá metade, porque o Novobanco herdou do BES uma tradição de relação com as PME.
Neste cenário, é muito natural a preocupação demonstrada pelo Governo e é justificado o sinal dado de que a Caixa Geral de Depósitos pode entrar no jogo, assim como a recordação de que o Estado não tem de vender a sua participação quando o banco for ao mercado; pode, mas não é obrigatório que o faça. Isto garante-lhe a possibilidade de ser um agente influenciador da decisão e do resultado.
A manutenção de centros de decisão nacional justifica-o, é importante, perguntem a Madrid sobre isso e terão resposta, ou a quem tem de enfrentar as campeãs espanholas em novos mercados apoiadas pelos seus bancos. Mais uma vez: este é um negócio de confiança e confiamos em quem conhecemos.