O presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou, poucas horas antes do início da Cimeira sobre Inteligência Artificial (IA) que no seu país serão investidos “109 mil milhões de euros nos próximos anos” em IA pelos Emirados Árabes Unidos, por fundos americanos e canadianos, mas também por empresas francesas”. “É o equivalente para a França ao que os Estados Unidos anunciaram com o Stargate”, acrescentou o presidente – que é o cicerone da cimeira que decorre em Paris durante três dias.
Mas, como em tantas outras questões, o que de fundamental está a suceder na cimeira é a evidenciação de que a Europa e os Estados Unidos têm posições opostas sobre a matéria. Enquanto, a acreditar nas palavras dos responsáveis da União Europeia, o bloco dos 27 quer erguer um edifício regulatório que defenda a propriedade intelectual, os direitos dos consumidores e os ‘desmandos’ que as tecnológicas costumam usar no mercado europeu, os Estados Unidos apostam tudo na desregulamentação.
A ver por outros setores da economia – nomeadamente no que tem a ver com a banca e a indústria produtiva – a posição da Europa está votada ao fracasso, dado que a preponderância dos Estados Unidos como ‘fonte primária’ de IA acabará por implicar que seja a posição norte-americana a ditar as regras na matéria. JD Vance, o vice-presidente dos EUA que está na cimeira, está encarregado de tornar isso bem claro. E já o fez.
Em meados de janeiro, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou um investimento de 500 mil milhões de dólares em IA, no âmbito do plano Stargate – num mercado onde a desregulação é a palavra de ordem. Ainda para Macron, o plano francês comporta “investimentos que os Emirados Árabes Unidos vão fazer”, de “grandes fundos de investimento americanos e canadianos”, mas também de “empresas francesas”, como os operadores de telecomunicações Illiad e Orange, bem como o grupo de eletrónica Thales.
Na quinta-feira, o Eliseu anunciou que os Emirados Árabes Unidos iriam investir entre “30 e 50 mil milhões de euros” na construção de um centro de dados gigante — com uma capacidade de computação de até 1 GW (gigawatt) — como parte de um campus centrado na IA, o maior da Europa.
O fundo canadiano Brookfield também indicou na sexta-feira que quer investir 20 mil milhões de euros em França até 2030, incluindo 15 mil milhões de euros em novos centros de dados, com um megaprojeto em Cambrai com uma capacidade máxima de 1 GW. A empresa francesa Mistral AI anunciou que também iria investir vários milhares de milhões de euros para construir o seu próprio centro de dados em França.
A Cimeira de Ação sobre Inteligência Artificial, que fecha esta terça-feira, dia 11 de fevereiro, no Grand Palais, em Paris, reúne representantes de mais de 100 países, incluindo chefes de Estado, diretores de empresas tecnológicas, investigadores e membros da sociedade civil. O objetivo do evento é debater as questões éticas, económicas e sociais em torno da IA, com vista a promover uma inteligência artificial ética, sustentável e inclusiva.
O principal objetivo da cimeira é estabelecer orientações para aproveitar os benefícios da inteligência artificial e, ao mesmo tempo, controlar os seus riscos. Os debates centram-se em particular na segurança dos sistemas de IA, no seu impacto no emprego e na necessidade de regulamentação internacional para evitar abusos como a vigilância em massa ou o enviesamento algorítmico.
A França espera desempenhar um papel de mediação entre os Estados Unidos, a China e a Europa, promovendo uma abordagem colaborativa e inclusiva.
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