O Eur/Usd cotava a $1.12 no final de setembro do ano passado. Era o valor mais alto do euro em mais de um ano. Kamala Harris recuperava nas sondagens e acreditava-se que poderia chegar à vitória nas presidenciais. Essa perceção alterou-se e o dólar iniciou uma tendência de alta quase interrupta até às vésperas da tomada de posse de Donald Trump. O mercado interpretava a vitória de Trump como favorável à moeda norte-americana. Por várias razões:
- Protecionismo: Países protecionistas tendem a ver a sua moeda valorizar devido à expectativa de redução de importações, de atração de investimentos e por reação dos parceiros comerciais. Uma forma de compensar as tarifas é a desvalorização da moeda dos países exportadores.
- Inflação: As tarifas são sempre pagas pelos consumidores, seja através de preços mais altos, seja por menor quantidade de bens e serviços consumidos. As políticas anti-imigração tenderão a aquecer o mercado de trabalho, que já se encontra com constrangimentos na oferta e salários mais altos. A subida dos preços internos pode implicar que a Fed suba as taxas de juro ou pelo menos não as desça.
- Segurança: A tendência para o reforço do excecionalíssimo americano e as tensões geopolíticas geradas em outras áreas do globo fazem dos EUA um porto relativamente seguro para os investimentos de vária ordem, aumentando a procura por dólares. Ao comparar os 50 dias de transações do Eur/Usd antes das eleições de 2016 com os de 2024, as semelhanças são evidentes. Em 2016/17 o dólar subiu até janeiro, tal como agora, lateralizando a seguir. Depois, o dólar desvalorizou a partir do final de abril, iniciando uma tendência de perda significativa. Em 2017, o declínio do foi atribuído a incertezas políticas, animosidade externa e promessas económicas parcialmente não cumpridas, o que levou a uma diminuição da confiança do mercado na presidência. A História não se repete, mas pode rimar.
Agora, o ponto de partida é diferente – Trump tem mais poder e legitimidade política – mas já se nota distanciamento de muitos países em relação aos EUA e, mesmo internamente, há receios que o Presidente possa ter dificuldades em segurar o apoio de todos os Republicanos no Congresso.
A impetuosidade de Trump está a gerar a perceção de ultrapassagem ao Estado de Direito, o que pode minar a confiança de agentes internos e externos. Em resumo, se o protecionismo de Trump justifica um dólar forte, o que se passou há oito anos abre espaço a dúvidas acerca da possibilidade de a moeda norte-americana continuar forte no que resta de 2025.