Na próxima semana, o “Forum para a Competitividade” leva a cabo um seminário intitulado “Crescimento da Economia Portuguesa – O Deve e Haver do Projecto Porter”. Para quem não se recorde – afinal falamos de alguém que liderou um estudo feito há 25 anos – Michael Porter e a sua Monitor Company foram contratados pelo então ministro da Indústria de Cavaco Silva, Mira Amaral, com diligências de Luís Todo Bom.
Depois de todo o trabalho de campo realizado, ouvidos múltiplos representantes dos variados setores e em resultado dos grupos de trabalho formados por especialistas portugueses que trabalharam em conjunto com os consultores da Monitor, foi editada em 1994 a síntese “Construir as Vantagens Competitivas em Portugal”, cujos resultados e sua eventual atualização serão agora alvo de debate na Culturgest.
Independentemente dessa sua maior ou menor atualidade – face às grandes diferenças entretanto verificadas a nível micro e macroeconómico e com crises do sistema financeiro pelo meio – é de realçar que a novidade do estudo de então foi a sua concentração em clusters identificados (a primeira vez que o termo surgiu entre nós). A saber e na ótica dos setores produtivos: o vinho, o turismo, o setor automóvel, o calçado, as malhas, os produtos de madeira. E, pela ótica da intervenção do Estado, a Educação, as Finanças, a Gestão Florestal e a Ciência e Tecnologia.
E é também importante lembrar que, infelizmente e seguindo uma má prática, uma vez produzidas as conclusões e apesar das suas qualidades e do investimento já realizado, o designado “Relatório Porter” foi sumariamente arquivado pelo governo de António Guterres, que chegou ao poder em outubro de 1995.
Tal não impediu, no entanto e como lembrou o próprio Mira Amaral numa conferência realizada em 2014, que “o governo PS aproveitasse a ideia dos clusters trazida pelo “Projecto Porter” para os seus textos de orientações e de política económica mas, como foi habitual na governação PS, tal não passou de produção de papel sem efeitos concretos na sociedade e na economia…”. Em suma, o PS de então, e parafraseando a famosa frase de Mário Soares sobre o socialismo, decidiu meter o capitalismo na gaveta.
Estou convicto de que a paragem que se seguiu a essa decisão, meramente politiqueira, teve efeitos perniciosos na diminuição – e até paralisação em diversos setores – do ímpeto reformista subjacente ao trabalho da Monitor Company e da dinâmica de envolvimentos dos diferentes agentes envolvidos na nossa sociedade civil. Espero que agora, neste seminário do “Forum Para a Competitividade”, esse ímpeto de reforma regresse e a análise crítica da atual realidade se imponha.
Hoje, 8 de março, celebra-se o Dia Internacional da Mulher. Nos últimos dias, o tema da violência doméstica tem sido preponderante na agenda. Apesar de crime público com direito a prisão desde o ano 2000 na nossa legislação, esta é uma realidade que continua por sanar na nossa sociedade e que hoje deve ser recordada por todos nós, independentemente de qualquer género. Em pleno séc. XXI não podemos aceitar que os números da violência doméstica em Portugal continuem tão altos, até porque cada número corresponde a uma pessoa que é simultaneamente uma vítima.