Portugal voltou a tremer, em fevereiro, repetindo-se o fenómeno natural sentido no verão passado, ainda que com menos intensidade. Um abanão que tem levado cada vez mais portugueses, tanto famílias como empresas, a procurarem proteção contra o risco sísmico. A cobertura está, em algumas das maiores seguradoras, a crescer a dois dígitos, mas ainda não acompanha a necessidade real de proteção num país situado numa zona de maior vulnerabilidade.
O sismo de 4,7 na escala de Richter foi sentido na região da Grande Lisboa, Alentejo e Algarve no mês passado, tendo sido acompanhado por várias réplicas. É a segunda vez em poucos meses que o país abana, depois de ter sentido um sismo de magnitude 5,3 em agosto de 2024. Os receios em torno deste risco estão a fazer crescer a proteção contra estes fenómenos.
“A percentagem de apólices vendidas com fenómenos sísmicos teve um crescimento de setembro a dezembro de 2024, tendo posteriormente retomado os níveis anteriores, em janeiro de 2025”, afirma fonte oficial da Allianz Portugal ao Jornal Económico. Já a Fidelidade detalha que a contratação desta cobertura “aumentou 12% [no ano passado] face a 2023”. E o mesmo crescimento a dois dígitos foi registado pela Mapfre.
“A procura por esta cobertura tem crescido nos últimos anos, tanto para seguros de casa como para empresas. No último ano, observamos um crescimento de aproximadamente 12%”, afirma Carla Quinteiro, Diretora Técnica e de Operações da seguradora, destacando o “crescimento mais acentuado para as empresas no segundo semestre de 2024”. De forma global, “mais de 50% das apólices em carteira têm a cobertura de fenómenos sísmicos (52% em seguros de casas e quase 54% em empresas)”, nota a responsável. No Grupo Ageas Portugal, a percentagem de apólices que tem cobertura de fenómenos sísmicos é de 46%, avança Nuno Gomes Duarte.
O Diretor de Oferta e Gestão do Produto do Grupo Ageas Portugal adianta ainda que, “no caso específico dos seguros Multirriscos Habitação do Grupo Ageas Portugal (marcas Ageas Seguros e Ocidental), a cobertura de fenómenos sísmicos tem vindo a aumentar, refletindo uma crescente preocupação com este risco”. Em 2022, 40,5% das apólices multirriscos habitação tinham esta cobertura opcional, tendo subido para 42,41% em 2023 e atingido 43,8% em 2024.
“Neste momento, a Fidelidade tem cerca de 17% das habitações seguras em Multirriscos Habitação com a cobertura de fenómenos sísmicos contratada”, afirma, por outro lado, fonte oficial da seguradora. Os seguros ligados ao crédito à habitação costumam ter, com mais frequência, a cobertura de fenómenos sísmicos. Já “na carteira de multirriscos habitação não associada a empréstimos bancários, em setembro de 2024, a percentagem de seguros com cobertura de risco sísmico era de 27,7%. Em janeiro de 2025, essa percentagem é 29,4%”, diz a Allianz Portugal. A Generali/Tranquilidade não revela a percentagem de casas com esta proteção, mas diz que na nova contratação 41% tem cobertura sísmica.
Custo continua a ser travão
“Apesar deste interesse crescente, a contratação efetiva ainda não acompanha a necessidade real de proteção, possivelmente devido à perceção do custo adicional e à necessidade de uma maior sensibilização da população para o risco sísmico em Portugal”, afirma Nuno Gomes Duarte, do Grupo Ageas Portugal, um valor que é influenciado por vários fatores, nomeadamente o capital seguro, o ano de construção do imóvel e a sua localização. Na seguradora, o prémio da cobertura de fenómenos sísmicos representa cerca de 28% do prémio total da apólice.
Na Allianz, a “cobertura de risco sísmico representa cerca de 40 euros anuais por cada 100 mil euros de capital do imóvel”, enquanto na Fidelidade, “em média, o valor de prémio ronda os 60 euros, para edifício e conteúdo”, subindo para cerca de 68 euros na Generali/Tranquilidade.
Carla Quinteiro, da Mapfre, refere que “pode custar desde 20 euros para um imóvel com menos de 40 anos, um valor de reconstrução de 100 mil euros numa região de baixo risco, ou 80 euros para imóvel com mais de 40 anos, valor de reconstrução de 100 mil euros numa região de maior risco”.
Setor à espera de fundo sísmico
“Apesar de representar um custo adicional, a proteção contra sismos é fundamental num país com o risco sísmico de Portugal”, frisa o Diretor de Oferta e Gestão do Produto do Grupo Ageas Portugal, afirmando que a “ausência de um sistema nacional de proteção contra catástrofes reforça a importância da contratação individual para minimizar perdas financeiras em caso de sismo e, principalmente, a elevada necessidade de consciencialização da população para este risco”. Neste momento, “Portugal é um dos poucos países da União Europeia sem um sistema abrangente de proteção contra riscos catastróficos”, reforça.
A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões entregou, no final do ano passado, uma proposta para a criação de um fundo sísmico em Portugal, um documento que está agora a ser analisado pelo Ministério das Finanças. Um passo que o setor alerta ser urgente dar, uma vez que, como afirmou a Associação Portuguesa de Seguradores, “não estamos perante uma mera incerteza, mas sim perante um verdadeiro risco, de ocorrência certa, em momento incerto”. Atualmente, apenas 19% das habitações têm seguro com cobertura de risco sísmico.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com