Eis-nos mergulhados de novo em período de confinamento. Infelizmente, tudo indica que medidas mais duras e com maior impacto económico ainda serão necessárias. Por isso, paira entre nós uma certa sensação de frustração e desânimo. Como foi possível chegar aqui?
Os bancários têm sido cidadãos cumpridores, se outra razão não existisse pela exigência decorrente de serem uma classe profissional na linha da frente. Mas somos humanos, como todos os portugueses. Esta pandemia também nos tem causado fadiga, dificuldade em separar a vida pessoal da vida profissional, a necessidade de saber desconectar, o afastamento dos nossos familiares, entre tantas outras maleitas.
Como a qualquer cidadão. Mas cumprimos, por treino profissional e por sentido cívico. Com muito orgulho, importa frisar. E exortamos todos os cidadãos a cumprirem o confinamento, sem busca de excepções artificiais ou a desvalorização dos enormes riscos colectivos.
Exigimos, por isso, às empresas em que trabalhamos que respeitem o espírito da letra da lei, no que toca ao teletrabalho. O teletrabalho tem de ser uma realidade, sem contemplações ou subterfúgios. No limite do possível, bem entendido, para não prejudicar os nossos clientes. A nossa exigência não é um capricho. É a responsabilidade social das empresas que assim o determina.
Acreditamos na centralidade da pessoa humana, alfa e ómega do trabalho e das relações sociais. Acreditamos também que deriva desta centralidade o princípio do Bem Comum. Nessa medida, fazer o Bem à comunidade (trabalhadores, clientes, fornecedores, accionistas, Estado, entre outros) tem de ser a medida de referência para os dirigentes, para todos aqueles com responsabilidade de gestão.
Acreditamos igualmente que o trabalho tem um valor económico e moral, porque é promotor de justiça social e das dimensões social e individual da pessoa humana.
Por isso, percebemos mal que grandes instituições, empresas líder de mercado, resilientes, tenham a ousadia de manter processos de restruturação em plena pandemia. E que se prestem a jogos semânticos e a comunicados de imprensa tentando escamotear uma prática aberrante em contexto de emergência nacional.
Na Carta Encíclica “Fratelli Tutti”, sobre a fraternidade e a amizade social, o Santo Padre Francisco exorta-nos a sermos todos irmãos. Um apelo que o seu antecessor subscreveria sem estados de alma. E é nestes momentos que o teste do algodão é feito. Somos consequentes ou procuramos iludir o princípio do Bem Comum e da proporcionalidade?
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.