A adesão à União Europeia foi essencial para que Portugal melhorasse o estado do seu ambiente e da natureza. Se a UE é responsável por 80% da legislação ambiental nacional, pouco se fala do papel das Organizações Não-Governamentais de Ambiente (ONGA) na conservação da natureza.

As ONGA procuram complementar (e muitas vezes substituem) a ação do Estado – produzem estudos com base na ciência, divulgam este conhecimento junto do público tornando as temáticas ambientais mais populares, fazem chegar este conhecimento aos decisores para serem integrados nas políticas públicas, e atuam junto das empresas para que estas ajam com maior transparência e em cumprimento (ou indo até além) das normas ambientais.

Para além disso, as ONGA têm capacidade de angariar financiamento para implementar projetos tanto de conservação da natureza, como de educação ambiental e de influência política. Fundações privadas, empresas, fundos públicos nacionais e europeus (atribuídos através de concursos transparentes), e os donativos de milhares de cidadãos são fontes de financiamento que permitem às ONGA fazer aquilo que muitas vezes o Estado não consegue. Por exemplo, em Portugal, muitos projetos de restauro ecológico e de proteção de ecossistemas e espécies ameaçadas (lobo-ibérico, lince-ibérico, aves de rapina, aves marinhas, etc.) foram ou são desenvolvidos por ou com o contributo de ONGA.

O seu trabalho de influência política tem também sido essencial para, por exemplo, assegurar o voto favorável de Portugal à Lei Europeia do Restauro, promover a aprovação de uma moratória à mineração em mar profundo em águas nacionais, implementar em Portugal a cogestão das pescarias (um modelo de governação de recursos naturais mais democrático e eficaz), e travar projetos prejudiciais ao país como o do aeroporto do Montijo e o da barragem do Pisão.

Com as suas ações de educação ambiental, as ONGA também proporcionam aprendizagens a milhares de crianças, jovens e adultos, melhorando a sua ligação com a natureza e saúde mental. Estas ações envolvem não só conhecimento ambiental e da natureza, mas também de intervenção cívica e cidadania afetiva, procurando capacitar pessoas de várias idades para a liderança ambiental. Também aqui as ONGA complementam o Estado, em coordenação com as escolas.

Para quem possa entreter a ideia de que as ONGA travam o desenvolvimento do país, deixamos claro: a atuação das ONGA cria valor. Em sete anos, a WWF Portugal já investiu seis milhões de euros em conservação da natureza. Só em 2024, e através dos 14 projetos europeus de conservação em que algumas das maiores ONGA portuguesas estavam envolvidas, o investimento em conservação da natureza trazido por aquelas para Portugal quase atingiu os 10 milhões de euros. Isto equipara-se a mais de 35% da verba do Fundo Ambiental transferida para o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), que se fica pelos 27,7 milhões de euros.

As ONGA são um pilar fundamental na defesa da democracia e do Estado de Direito. Lutam pelos direitos de todos os cidadãos a ter acesso à informação ambiental, à justiça em matérias ambientais, e pelo direito à sua participação na tomada de decisão.

Sem as ONGA, a conservação da natureza, a proteção ambiental, a educação e em última análise a nossa democracia seriam muito mais pobres. Enquanto os governos mudam e as políticas oscilam, as ONGA mantêm-se firmes na defesa do que importa: preservar a natureza e o ambiente para todos termos uma vida com qualidade, agora e no futuro. E este valor é incalculável.