O debate sobre o processo de paz da Ucrânia remete-nos ao tempo da Guerra Fria, onde duas superpotências participaram, directa e indirectamente, nos processos de paz, de forma a preservarem a sua influência mundial.

Este retorno ao velho mundo já não poderá ser realizado sem atender aos interesses da China no mundo. É por isso que a Ucrânia representará, para o bem ou para o mal, o devir do novo mundo, com as velhas lógicas.

Essa transformação da política global será feita à custa do sangue e da integridade da soberania ucraniana, mesmo possuindo a categoria internacional de um Estado soberano que lhe garantia, desde logo, o respeito dos seus limites geográficos.

Este aspecto demonstra que a regulação das Relações Internacionais através do Direito Internacional não consegue, per se, conter o ímpeto e o desejo de acumulação de poder e de riqueza das superpotências.

É, por isso, que os Estados europeus estão a pensar alterar a sua política de defesa e segurança, visando, sobretudo, assegurar a sua capacidade de realizar a guerra num mundo onde já não poderão contar com os EUA, como outrora. Ou seja, não será suficiente clamar ou reclamar pelo respeito pelo Direito Internacional, mas, sim, impor esse direito através da utilização do poder balístico, se for necessário.

A paz na Ucrânia representará de forma simbólica e até efectiva a entrada de uma nova era da geopolítica, retornando, por conseguinte, a uma velha lógica de preservação dos interesses (político e económico) dos mais fortes, designadamente os senhores do mundo. É assim que a paz na Ucrânia significará a divisão entre os EUA, com acesso às terras raras para exploração mineira, e a Rússia, com a anexação de certos territórios já conquistados até então.

Esses termos de paz na Ucrânia estabelecerão uma nova lógica de resolução de conflitos armados que colocarão, certamente, em risco os países mais fracos e com abundância de recursos naturais, como é o caso dos países africanos, que poderão, mais uma vez, sofrer uma espoliação dos seus recursos para se manterem em paz.

Estamos, assim, a observar uma transformação da geopolítica mundial, que está a ser dominada pelos senhores do mundo, sem a capacidade de reacção de outrora, onde os movimentos cívicos e dos cidadãos eram capazes de se mobilizar em torno de causas de justiça mundial. Estamos a entrar num mundo novo, em rápida aceleração, sem saber muito sobre o nosso destino colectivo, dominados por um certo estado de liturgia e anomia para reagir por agora.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.