Numa era de incerteza na Europa e no mundo, os investidores pedem estabilidade, mas essa luz ao fundo do túnel teima em não ser avistada. Cá dentro, as últimas notícias em torno do primeiro-ministro despertam a apreensão entre os investidores. Lá fora, a agitação entre americanos, russos e ucranianos deixa marcas nos mercados.

Será desta que a Europa cai em si e percebe que não pode continuar eternamente dependente dos Estados Unidos como o seu grande aliado e defensor das fronteiras terrestres?

Só uma ‘terapia de choque’, como a que está a ocorrer, poderá despertar o velho continente, a que muitos já chamam de ‘museu’. A Europa e os europeus não se reveem nesse apelido pejorativo. A Europa e o seu povo sabem bem que são uma potência económica, um dos maiores mercados do mundo e que, com o investimento certo, poderá dar o salto em termos de defesa e poder geoestratégico.

Este sempre foi um território de conflitos. Muitos de nós ainda se lembram da guerra da Bósnia (abril de 1992 e dezembro de 1995), da guerra da Arménia com o Azerbaijão (a primeira na década de 90 e a segunda em 2020) ou da anexação da Crimeia pela Rússia (2014), só para citar alguns casos. Não foi assim há tanto tempo, mas, por vezes, há líderes que preferem não ver para não acreditar na realidade dos acontecimentos.

Com a atual ‘terapia de choque’, a Europa é obrigada a acordar lentamente. Esta terça-feira, Ursula von der Leyen apresentou um pacote de defesa de 800 mil milhões de euros, mesmo antes de acontecer a cimeira dos líderes da União Europeia, na quinta-feira, a que chamou de Plano Rearmar a Europa. Segundo a presidente da Comissão Europeia, o mesmo levará os Estados-membros a mobilizar até 800 mil milhões de euros para financiar um aumento maciço das despesas com a defesa. O anúncio foi feito horas depois de Washington ter suspendido toda ajuda militar à Ucrânia, pressionando o bloco europeu a aumentar a sua própria capacidade de reação e assistência ao país de Zelensky.

As cinco medidas de Von der Leyen, detalhadas numa carta dirigida aos líderes da UE, incluem um novo instrumento para conceder 150 mil milhões de euros em empréstimos aos Estados-membros para financiar investimentos conjuntos na defesa, incluindo a defesa aérea e antimísseis, sistemas de artilharia, mísseis e munições, drones e sistemas anti-drone. No entender da líder europeia, esta não é só uma medida para responder ao curto prazo, mas ao longo prazo, ou seja, “assumir uma maior responsabilidade pela nossa própria segurança europeia”.

Também esta semana, o Banco Europeu de Investimento (BEI) anunciou a ambição de ter mais de 8 mil milhões para projetos militares. O BEI prepara-se para reduzir “o mais possível, até ao mínimo” a sua lista de critérios de exclusão para emprestar dinheiro, de forma a poder incluir o financiamento de um maior leque de projetos militares na Europa, além dos 14 já na calha para receber financiamento.  Até aqui, muitos dos projetos de defesa estavam vedados aos empréstimos do banco, mas a ‘terapia de choque’ obriga a uma nova atitude, já declarada, esta quarta-feira, pela presidente do Grupo BEI, Nadia Calviño.

E para fechar, confirma-se que Christine Lagarde, líder do Banco Central Europeu (BCE), tirou de vez os juros do piloto automático dando como certo mais um corte nas taxas, a sexta descida consecutiva. Para os próximos meses, e até junho, mais dois cortes deverão confirmar-se. Com isto, Lagarde tenta estimular a economia, afinal, a desaceleração acentua-se e a incerteza disparou.

No meio de todo este cenário imprevisível e desafiante, não deixa de ser interessante verificar como estas três mulheres têm hoje nas mãos os destinos da Europa, com impacto no mundo. Hoje, véspera do Dia Internacional da Mulher (8 de março), vale a pena inspirarmo-nos nelas e ajudar outras mulheres ao nosso redor a quebrar os ‘tetos de vidro’ que ainda bloqueiam, aqui e ali, a afirmação e a ascensão no feminino.